sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Carta de intenções



Amigo, pra mim, tem que tomar partido do amigo — EM PÚBLICO!
Tem que escolher o lado do amigo.
Tem que fechar com o amigo.
Tem que defender o amigo.

Mas, tem também que puxar a orelha do amigo — SEMPRE EM PARTICULAR!
... tem também que criticar o amigo — naquela conversa em particular que só se pode ter com um amigo real e confiável.
... Tem que ajudar o amigo a enxergar seus erros e procurar as soluções — em particular.
Amigo, que é amigo, não expõe. Conforta!
Amigo, que é amigo, não abandona. Acolhe!
Amigo, que é amigo, vai junto, leva junto, é parelho, acompanha...
Amigo, que é amigo, não se isenta, não se omite, não se retira.

Amigo é aquele cara que nunca é neutro.
Amigo é aquele cara que defende outro até a morte, em público, aos altos brados, seja pra quem for, mesmo que depois, em particular, precise matar o amigo, esculhambar o amigo, dar lição de moral no amigo, esculachar pelas cagadas, pelas falhas, pelos erros, pelas mancadas.

É claro que amigo erra! Erra sim, e erra muito. E quando amigo erra, é como se a gente errasse também! Dói, envergonha, incomoda!!! Mas isso é coisa de amigo pra amigo. Em público é diferente: amigo tem sempre razão! Em público, amigo é amigo e ponto final! Tem que ser defendido, protegido e cuidado.

Amigo tem que ser solidário, sim, e declarar sua solidariedade ao amigo, sempre. Mas sempre em público.
Solidariedade privada, secreta e silenciosa, no cantinho do corredor, no recolhimento do banheiro, no momento em que ninguém está vendo, não serve! Não é solidariedade! É média.
E a média serve apenas para registrar que a covardia está substituindo a amizade.

Amigo é aquele cara que não pode ser neutro. Tem que ter lado, partido, convicções comuns com o amigo, mesmo que tenha discordâncias.
O amigo é aquele cara que você reconhece no meio de uma multidão, porque ele se comporta com uma conduta ética semelhante à sua....
Amigo, antigamente, era aquele cara que se aproximava de você, e você dele, porque possuíam coisas em comum. Coisas como caráter, visão de mundo, expectativas de vida, noções de moralidade semelhantes, valores iguais.

Hoje, para ser amigo de alguém, você não precisa de nada.... basta estar em alguma rede social.

Hoje em dia, amigo nem conhece de verdade o amigo.
Tem inclusive amigo que nunca se viu!!!
Acho que os tempos atuais são tempos de pouco vocabulário, de preguiça verbal e de inexpressão.
A palavra AMIGO teve seu conteúdo esvaziado e hoje em dia designa outros tipos de relação que não a de amizade....
Uma pena.
Eu sou do tempo em que amigo dava a vida pelo amigo...

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Minha Amiga vai à praia....




O que procura a minha amiga?
Procura um horizonte azul, com velas brancas e vento fresco.
Procura um horizonte...
Procura um vento fresco, um ar novo.
Procura novas pegadas na areia.
Vai buscar um novo caminho.
Vai buscar luz do sol pra iluminar a vida.
Vai buscar guarda sol, pra não queimar a pele.
Vai buscar passos novos que andem lado-a-lado em direção ao novo horizonte.
Vai buscar a pele quente, vai buscar...
Vai em busca.
Procura.
Se perde.
O que busca, minha amiga?
Jogo de esconde-esconde.
Procura esconder a dor, apagar a mágoa, esquecer pegadas antigas na terra seca.
Põe a pele no sol, pra dourar, pra curtir, pra purgar.
Pra trocar, pra descascar. Pra virar pó!
Põe pra fora o amargor
Expulsa no suor o sangue que coagulou no peito e que não circula mais.
Deixa pra trás!
Minha amiga vai à praia, buscar nova cor.
Uma cor nova pros olhos, pra pele, pra vida.
Um remédio pra velha ferida.
Salmoura do mar sagrado
Vem pra curar feridas do passado.
Pra secar a perda, pra cicatrizar a memória, pra curar o vazio.
Minha amiga vai à praia, pra trocar de pele, pra trocar de vida, pra reviver.

Mergulha, afoga, naufraga, boia, vai dar em outra praia.
Uma praia vazia, com terra nova, pronta para uma nova morada....