"Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?"
Adoro esta fala da Malévola, principalmente porque o espelho faz com ela o que nem ela mesmo faria: a transforma em uma pessoa de beleza inatingível, incomparável, indestrutível e eterna.
Ou seja: o espelho mente para ela mais do que ela mesma.
Assim como tem feito conosco as redes sociais.
Disse "CONOSCO", porque cada vez que algum de nós se senta diante da tela de um computador para viajar pelas redes, está simulando o diálogo de Malévola com seu espelho. E me incluo nesta dinâmica.
Mas o encanto das Redes não precisa ter o efeito do Espelho Mágico da Malévola.
Quando saímos da frente do computador voltamos para o universo das contas a pagar, das doenças a tratar, das amizades por refazer, dos equívocos por reparar, das conquistas por comemorar e das derrotas por superar, enfim, voltamos à vida.
Mas, por que, na vida, continuamos querendo simular a relação de Malévola com seu espelho?
Ninguém quer ser feio, portanto, cada vez mais, mais e mais pessoas se esforçam para serem vistas sempre bonitas.
Ninguém quer ser mau, portanto, a imagem preferida a ser apresentada a quem nos conhece à primeira vista, tem sido a do "bom-mocismo" em tempo integral.
Ninguém quer ser desleal, portanto as declarações de amizade e solidariedade pipocam nas "time-lines" mundo a fora...
E inúmeros exemplos do binômio ser-parecer poderiam ser elencados aqui, mas julgo desnecessário...
O que me chama a atenção é a forma como o conflito entre ser e parecer tem transbordado para o cotidiano, cruel e devastador, a ponto de produzir um ódio inegociável entre os diferentes.
E, me assusta que, dentro desse contexto de tamanha beleza, surja um ser repugnante como "bolsonaro", sem o menor pudor de se mostrar deformado e desprezível.
Dentro desse universo mágica e irrealmente lindo em que mergulhou o mundo, "bolsonaro" virou um verdadeiro anti-herói, o que o eleva a uma casta de divindades das quais ele sequer poderia se aproximar, mas, encontra-se inserido!
Então, se estamos em um meio onde ser feio condiz com determinada aparência, imediatamente, em busca de aceitação, nos voltamos contra aquela aparência.
Se ser honesto, ou desonesto, é compatível com determinada conduta, nos voltamos de forma voraz contra aquele comportamento, para que ninguém ache que somos como aquela conduta nos faz "parecer" ser.
Isso me remete à conduta de "bolsonaro" e seus pares morais.
E me faz sentir nojo e repulsa por esse ser aprisionado dentro de tantos "bolsonaros", em diversas instâncias, que de tanto negar sua essencia, descortina sua real aparência.
— "bolsonaro", você deve se odiar demais, não?
Poderia ter pena de "bolsonaro".
Mas não!
Me indigna, me enoja, me ofende e me envergonha que tenhamos uma sociedade que elege tipos como ele para funções tão importantes.
E me entristece que, os mesmos que o elegeram, bradem pelas ruas em nome de ética, conduta moral e transparência.
Como disse o Gilmar, tempos realmente estranhos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário