sexta-feira, 3 de maio de 2013

Celular

O que levo comigo ao sair, na partida?
Não sei bem o que levo, mas sei bem o que trago...
Trago comigo uma nota quebrada,
Um ensaio perdido
Falta não computada...


Trago comigo gosto de guloseima não comida,
Fastio de comida não dividida
Frescor de água não bebida.
Trago comigo a visão da janela embaçada
A tontura do ar viciado
O odor de corpo suado.


Trago comigo pouca coisa
Bagagem vazia,
Lembranças apagadas.
Trago comigo quase nada:
Um nada pesado.


Não trago comigo nem café da manhã:
mais uma refeição perdida...
Meu estômago: comprimido.
Levo uma caixa fechada, de preto tarjada.
Uma caixa excluída.
A caixa perdida no embalar da bagagem.
O medo de dar em uma outra paragem,
o sonho de inspirar uma nova aragem.


Levo comigo uma bandeja de frutas
A natureza morta
A natureza torta
Minha natureza exposta


Levo também meu mais novo amigo.
Os antigos, deixo pra trás...


— Alô, você pode falar?

Meu novo amigo é o meu celular!


— Por favor, deixe seu recado após o sinal...

— Fui!!!


Tânia Viana
Ribeirão Pires, dezembro, 2007

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