Diário da CPTM
365 dias de uma passageira.
10/12/2016
365 dias de uma passageira.
10/12/2016
A melancolia da chuva, que lava tudo, fica represada na CPTM.
Coisa melancólica é pegar o trem em dias chuvosos.
A começar pelo trajeto: quem utiliza o trem como meio de transporte, salvo raras exceções, não possui outro meio satisfatório para a locomoção intermunicipal. Se possuísse, não iria até a estação de trens em dia de chuva!
Caminhar sob a chuva para adentrar um vagão de trens com a roupa molhada, os pés mergulhados no sapato empiscinado, nas mãos o guarda-chuvas, guardando as gotinhas respingadas que não atingiram a roupa; é bem pouco animador.
Ao chegar na plataforma podemos ver o protagonismo dos guarda-chuvas. Uma profusão de cores e tamanhos, muitos deles abertos e alinhados, sob os quais perfilam-se também os passageiros, à espera da composição. Outros tantos repousam fechados, dentro de sacolinhas de supermercados, encarregadas de represar as gotinhas retidas no tecido impermeável do protetor de respingos.
O chão da plataforma é incansavelmente seco pelas heroicas funcionárias da Faísca. Rodos de meio metro de palheta tentam vencer as invencíveis poças d'água dispostas ao longo da plataforma.
Coisa melancólica é pegar o trem em dias chuvosos.
A começar pelo trajeto: quem utiliza o trem como meio de transporte, salvo raras exceções, não possui outro meio satisfatório para a locomoção intermunicipal. Se possuísse, não iria até a estação de trens em dia de chuva!
Caminhar sob a chuva para adentrar um vagão de trens com a roupa molhada, os pés mergulhados no sapato empiscinado, nas mãos o guarda-chuvas, guardando as gotinhas respingadas que não atingiram a roupa; é bem pouco animador.
Ao chegar na plataforma podemos ver o protagonismo dos guarda-chuvas. Uma profusão de cores e tamanhos, muitos deles abertos e alinhados, sob os quais perfilam-se também os passageiros, à espera da composição. Outros tantos repousam fechados, dentro de sacolinhas de supermercados, encarregadas de represar as gotinhas retidas no tecido impermeável do protetor de respingos.
O chão da plataforma é incansavelmente seco pelas heroicas funcionárias da Faísca. Rodos de meio metro de palheta tentam vencer as invencíveis poças d'água dispostas ao longo da plataforma.
Os camundongos que normalmente festejam ao sol, recolhendo migalhas e farelos, correndo de dormente em dormente, por entre os pedriscos, sob o trilhos, desaparecem. Nem eles gostam da estação em dias de chuva.
Era pra ser poético. Poderia ser uma invocação intimista de memórias de acolhimento. A chuva tem esse potencial...
Mas, por que as estações de trens em dias de chuva só são poéticas nas cenas de filmes, onde os casais enamorados se despedem sob os respingos, trocando juras de amor eterno e reencontro futuro?
Certamente porque faltam nas cenas reais as capas de gabardine impermeável , lindas e impecáveis. Faltam as coberturas em toda extensão da plataforma, protegendo os passageiros. Faltam os Fords Bigode dos quais desembarcam as donzelas em vestidos godê "guarda-chuva", devidamente engomados e "ensaiotados".
Falta tanta coisa.
Falta inclusive a poesia, capaz de ver um horizonte na janela respingada e de imaginar um espelho d'água no chão encharcado do vagão, molhado pela chuva torrencial que entra pela porta, junto com os passageiros, no momento em que o trem se abre na porção descoberta da plataforma.
Estive, hoje, em um vagão assim. Encharcado!
Eu estava seca, mas havia quem não estivesse... Vim caminhando por sob as marquises do caminho.
Por sorte meu caminho tinha marquises... Mas há caminhos que não as tem!
Olho para o chão do vagão e vejo nele mais do que aquele piso encharcado, pisoteado e escorregadio.
Era pra ser poético. Poderia ser uma invocação intimista de memórias de acolhimento. A chuva tem esse potencial...
Mas, por que as estações de trens em dias de chuva só são poéticas nas cenas de filmes, onde os casais enamorados se despedem sob os respingos, trocando juras de amor eterno e reencontro futuro?
Certamente porque faltam nas cenas reais as capas de gabardine impermeável , lindas e impecáveis. Faltam as coberturas em toda extensão da plataforma, protegendo os passageiros. Faltam os Fords Bigode dos quais desembarcam as donzelas em vestidos godê "guarda-chuva", devidamente engomados e "ensaiotados".
Falta tanta coisa.
Falta inclusive a poesia, capaz de ver um horizonte na janela respingada e de imaginar um espelho d'água no chão encharcado do vagão, molhado pela chuva torrencial que entra pela porta, junto com os passageiros, no momento em que o trem se abre na porção descoberta da plataforma.
Estive, hoje, em um vagão assim. Encharcado!
Eu estava seca, mas havia quem não estivesse... Vim caminhando por sob as marquises do caminho.
Por sorte meu caminho tinha marquises... Mas há caminhos que não as tem!
Olho para o chão do vagão e vejo nele mais do que aquele piso encharcado, pisoteado e escorregadio.
Hoje, durante a viagem, ele foi meu espelho d'água.
No momento do desembarque foi, hoje, a minha "Fontana di Trevi"...
Habitualmente sou a última a descer. Hoje não foi diferente.
Antes de sair abro a bolsa, retiro uma moeda e arremesso, por sobre o ombro, para dentro do vagão, sem olhar pra trás. Ela ficará lá, como memória física do meu desejo.
Fiz um pedido. Espero que ele se cumpra.
Uma moeda só, portadora de vários desejos, que são pra todos...
Uma moeda só, portadora de vários desejos, que são pra todos...
Desejo um mundo onde a chuva não desabrigue e que seja sempre acolhedora. Um mundo onde haja mais gotas frescas e revigorantes nas janelas respingadas pelas quais se possa avistar nuvens leves e translúcidas no horizonte...
Desejo mais espelhos d'água e mais caminhos com marquises...
Hoje, diferentemente dos outros dias, não desembarquei sozinha! Decidi desembarcar de braços dados com a poesia.
E ela permaneceu comigo, apesar de você, CPTM.
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