Diário da CPTM
365 dias de uma passageira.
09.03.2017
Estou dentro do trem. Ele se move, mas nem sempre...
Às vezes, mesmo parados, temos a sensação do movimento, provocada pelo movimento no entorno. A percepção de que algo no entorno se moveu faz com que nos sintamos também em movimento.
Aqui, dentro deste trem, esta sensação é presente, mesmo que ele esteja parado.
Às vezes a sensação é tão real que nos sentimos até em desequilíbrio. Um desequilíbrio que rompe a inércia do repouso. Mas permanecemos parados.
Hoje,
dentro deste trem parado, observando a composição vizinha, que de fato
se movia, tive esta percepção de vertigem do tombo estacionário: Estava
parada, achando que me movia e quase precipitei em direção ao chão...
Eu achando que me movia me deparei com a sensação de que o mundo se movia em torno de mim.
E esta percepção enganosa, que muitas vezes nos coloca no centro do mundo, nos transforma em vértices de convergência dos interesses todos. Nos faz importantes em demasia.
Mas, assim como a ilusão de movimento, que sentimos no trem parado, quando algo no entorno se move, também a sensação de importância exacerbada é enganosa.
Que movimento é esse, afinal?
Ouço, com frequência, o termo "movimento" e esta divagação sobre movimento enganoso me conduz a um dilema contemporâneo
Movimento, agora, é um termo que tem sido usado para designar atos, manifestações, protestos...
Hoje em dia tudo é "movimento".
Triste, percebi que nunca estivemos tão parados!
E o entorno avança, galopa sobre nossos direitos, avança sobre inúmeras conquistas, atropela anseios e planos.
O entorno gera a vertigem do tombo estacionário.
E cairemos justamente por termos permanecido estacionados.
Salto na próxima estação. Cheguei ao ponto final.
Espero que, ao descer desta composição, meus pés deem fim a esta ilusão de movimento estacionário e meu caminho me conduza, segura, de volta pra casa.
Meu amor, chego já...
* pro meu parceiro de todos os dias, pelo dia de ontem que, comemorado pelo mundo, em homenagem às mulheres, foi também dele.... minha metade. Com quem divido a vida, os repousos e os movimentos todos.
Porque ele me move.
Nenhum comentário:
Postar um comentário