quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Dia 12 — Sorte é pra quem tem!

Diário da CPTM
365 dias de uma passageira
22/11/2016

Sou de uma fidelidade canina, apesar de dar minhas escapadinhas...
Hoje dei uma delas. E quase me dou mal!
Sente o drama:
Horário marcado para reunião,  ensaio na sequência, aula no fim do dia. Uma movimentação com três cidades-destino diferentes, em um único dia.
E tudo isso acontece, habitualmente, passando por um deslocamento que engloba aproximadamente 9 cidades, perfiladas entre as extremidades, atravessadas, uma a uma, tendo vista garantida pela janela lateral, do trem e posteriormente do Cometa, no meu exercício de infidelidade semanal onde a CPTM deixa de protagonizar meus deslocamentos e se vê substituída pelo transporte rodoviário. E, ao final do dia refaço o deslocamento, no sentido inverso, até retornar ao ponto de origem.
Cerca de 180km de percurso num único dia, com saída às 7, chegada às 22. Oito horas de atividades distribuídas entre as 3 cidades e, no retorno, uma, paradinha para trocar de meio de transporte até retornar aos braços da minha CPTM amada, que me traz de volta à minha cidade de origem, ao final  do dia.
Parece insano?  Mas faço isso todo as as semanas. A cada 15 dias, duas vezes na semana.
Hoje decidi, dentro da infidelidade semanal que me é habitual, trair ambos: CPTM E COMETA.
Decidi tomar meu destino nas mãos, ser dona do meu caminho e me deixar guiar por satélites, deixando o percurso a cargo do GPS. Endereço-destino definido, programei o percurso mais rápido e fui...

Num dos habituais recálculos de rota, caí em uma via pedagiada, e aí começou o meu martírio, num dia que tinha tudo pra ser tranquilo. CPTM e COMETA  não estavam nos meus planos, a não ser na última porção do dia quando eu, já cansada, entraria em um dos vagões da minha CPTM querida, estenderia o esqueleto em um dos bancos duplos laterais (meus favoritos),  esticaria as pernas sob os bancos a minha frente e... dormiria até chegar em Ribeirão!

Era um plano perfeito mas foi desmantelado por um pedágio!
Eis que o Waze, meu amigão camarada de todas as horas engarrafadas, recalcula minha rota, sem atualizar os dados dos valores existentes na minha carteira.

Caí na Praça de pedágios do Rodoanel, Imigrantes, rumo a São Paulo. Míseros R$3,20 e eu não os tinha: minha carteira, há um bom tempo, anda vazia, já que o uso do cartão de movimentação bancária substitui o uso de dinheiro vivo.

Uso, eventualmente, vias pedagiadas, mas levo o dinheiro  previamente separado para tal. Mas hoje meu percurso só previa pedágios no meu segundo turno de deslocamento, para  o qual providenciaria os recursos no intervalo.

Foi um carão! A praça de pedágios, atrás de mim, esperando que a coordenadora liberasse a cancela. Eu passaria e esperaria na faixa zebrada pelo boleto de pagamento pela minha infração: não ter dinheiro na carteira.

Minutos de espera até receber o boleto, que não era um boleto... E também não era esta a punição! A punição real seria retornar à praça de pedágios para sanar o débito já que não havia a hipótese de realizar o pagamento em banco ou por vias eletrônicas.

Desta forma, meu pedágio de R$3,20 se transformaria no pagamento de 3 pedágios: o devido, mais os pedágios de ida e volta até uma das praças de pedágio indicadas para realizar o pagamento.

Sem contar o desgaste com  gasolina, já que a praça de pedágio mais próxima fica situada a aproximadamente  30km de distância da minha casa.

À noite, buscando na "infernete" uma solução para a questão, entrei em um site de reclamações e encontrei inúmeras situações como a minha, que foram solucionadas de forma imediata, sem o transtorno de qualquer deslocamento até a praça de pedágios mais próxima que, em se tratando de Rodoanel, fica distante de tudo.... 

Cortei caminho e liguei no 0800 da SPMAR. Relatei o ocorrido a um rapaz muito atencioso que me atendeu. Depois de alguns segundos de espera, aguardando a verificação do rapaz junto ao setor responsável,  tivemos o seguinte diálogo:

— Senhora, infelizmente não existe opção para pagamento bancário, porque a SPMAR não tem convênio para esse serviço.
— Então, mas como faço? Moro distante das praças de pedágio sugeridas e não utilizo o rodoanel com frequência. Não faz sentido retornar lá por apenas R$3,20!
— Sim, senhora, mas não tenho como ajudá-la. A senhora pode não realizar o pagamento e depois solicitar ao departamento de cobrança que efetue a regularização.
— Mas aqui diz que se eu não pagar em 5 dias pagarei uma multa de 120 UFIR! —  (como se pode constatar, a UFIR é uma alíquota de cálculo que nem existe mais.... http://idg.receita.fazenda.gov.br/orientacao/tributaria/pagamentos-e-parcelamentos/valor-da-ufir).
— Sim, senhora, mas não tenho como ajudá-la. Somente depois de expirado o prazo normal de pagamento que o setor de cobrança pode regularizar a pendência.
— Olha, Douglas, eu sei que é esta a orientação que você recebe, mas sei também que existe solução, pois encontrei no site ReclameAqui inúmeras queixas semelhantes à minha e a solução foi imediata. Então eu gostaria de resolver sem recorrer ao ReclameAqui. Seria possível?
— Senhora, esta foi a orientação que eu recebi, mas vou verificar novamente pra ver o que consigo para a senhora...

Mais alguns segundos de espera até que Douglas retornasse à ligação com a novidade da noite:
— Senhora, ... a senhora tem sorte!
— Mesmo?
— Sim! O atendimento do setor de cobrança é até as 22horas (eram 22:19) mas por sorte consegui falar com um funcionário que ainda estava lá! Ele me pediu para pegar seus dados.

Informei novamente meus dados: nome completo, CPF, habilitação, cor, ano e modelo do carro, praça de pedágio e pista da ocorrência.
Em seguida me deu os dados da conta bancária na qual eu deveria fazer a regularização.

Isso tudo aconteceu depois de um dia longo e inesperado:
— Falha na expectativa de conduzir meu próprio caminho, ter o destino nas próprias mãos, deixar-me guiar pelas estrelas... ( ou satélites, nem sei!)
— Reunião com hora marcada, com duração prevista de uma hora, com atraso de quase 50 minutos e duração de quase 3 horas. 
— Ensaio desmarcado, mente exausta, corpo em frangalhos, aula desmarcada, gasolina gasta em vão, aquele desejo de voltar pra casa dormindo no banco duro da CPTM, mas tendo um carro nas mão para dirigir no caminho de volta.

Ainda bem que a SPMAR existe, para me lembrar que sou uma pessoa de sorte!
Quase duvidei...

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