Diário da CPTM
365 dias de uma passageira
13/11/2016
365 dias de uma passageira
13/11/2016
Dos sete dias da semana, há semanas em que nos vemos todos os dias.
Semanas em que não há um único dia vazio em nossas agenda de encontro.
É sempre a mesma rotina: Saio de casa, caminho solitária e determinadamente até ele.
Chego lá e, na maioria das vezes, ele ainda não chegou.
Chego sempre antes. Dou uma paradinha na chegada e, antes de entrar, converso com a Preta.
Para a Preta não há dias vazios, ela está sempre lá, na entrada, deitada no chão, encostada à muretinha de pedra.
Chego, cutuco a danada com a ponta dos sapatos e ela abre os olhos. Eu, com voz caricata e infantilizada, digo: Cadê a barriga?
Ela imediatamente se vira, mostra a pança e recebe aquela coçadinha...
Não sei quantas pessoas fazem isso no decorrer do dia, mas ela adora quando eu chego.
Mas não fico ali muito tempo. Meu encontro não é com ela. Apesar do rabo abanando, festivo e agradecido pela cutucada que a despertou, chega o momento de nos despedirmos, no exato instante em que anunciam a chegada dele, com o toque da campainha.
Raros são os dias em que nós duas não nos cumprimentamos! Procuro sempre por ela...
Isso só não acontece quando me atraso e ele ja está lá à minha espera. Invariavelmente corro... quando chegamos juntos, aperto o passo para não fazê-lo esperar.
Ele não me espera. NUNCA. Me deixa pra trás, sem remorsos nem piedade.
Me quer sempre à espera e, se a rotina muda, estraga meu dia, sem querer saber o que me fez retardar minha chegada.
Ele, quando se atrasa, estraga meu dia em dobro! Me deixa sentada, inquieta, esperando impaciente, olhando o relógio seguidamente, sem compreender o porquê da demora.
E não há explicação alguma. Nunca há!
Ele, impiedoso, chega. Se eu estiver ali, me leva com ele. Se não estiver, azar o meu. Vai sem mim, sem levar em consideração a minha fidelidade canina. Quase tão canina quanto a alegria da Preta depois da coçadinha na barriga.
É uma história antiga, de laços duradouros.
Mas ele não espera por mim, nunca.
As semanas passam e sempre espero pelo dia em que não precise ir ao encontro dele.
Hoje meu sonho se realizou.
Trem de ferro, hoje não vou!...
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