Sou de uma geração que está mergulhada em um buraco afetivo!
A minha geração é composta de mulheres loucas pra ser fêmeas, mas cheias de medo das consequências disso.
Segundo as revistas femininas, uma super mulher está sempre perfumada, penteada, maquiada, pronta pra tomar um vinho em ótima companhia, companhia que lhe proporcionará orgasmos múltiplos e de vários minutos de duração.
A minha geração está repleta de homens que dizem que não conseguem entender a cabeça das mulheres.
Segundo as revistas masculinas uma super mulher tem truques de sedução, que vão desde a coreografia de uma cruzada de pernas, passando pela quantidade certa de umidade nos lábios, pela capacidade de multiplicar as contrações do sexo, pelos decotes, pelas calças justas, pelas transparências, pelos saltos altos, pelas meias insinuantes e, enfim, pasmem, chegando na tão decantada SEGURANÇA!
Que segurança é possível quando se faz necessário conciliar tantos truques? Só mesmo em espetáculos de ilusionismo.
Mas estou falando de amor. Não de ilusão!
As revistas femininas dão dicas do que fazer hoje pra que ele te ligue amanhã.
As revistas masculinas esclarecem o que foi que ela fez de errado ontem, para que ele não tenha vontade de ligar nunca mais!
E de revista em revista, vejo que minha geração simplesmente não se encontra!
Como diria o Drummond: "João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém".
E de amor em amor, parece que o desamor impera e ninguém se encontra mais.
Onde estão os homens que abrem a porta do carro, que andam pelo lado de fora da calçada pra proteger a parceira, que puxam a cadeira pra ela sentar, que a esperam escolher seu prato no restaurante e que, depois disso chamam o garçom e fazem o pedido por ela?
E, como se tudo isso ainda não bastasse, ainda a cobrem quando adormece depois de fazer amor?
Onde estão as mulheres que brindam os olhos do parceiro com um olhar doce, que dizem "bom dia meu amor", que estão dispostas a fazer um afago pelo simples prazer do contato?
Onde é que nós estamos, homens e mulheres da minha geração?
Estamos quase todos, homens e mulheres, tentando agir de acordo com o que se divulga nas revistas, tanto femininas quanto masculinas.
Eu não quero mais isso pra mim! nem de brincadeira...
Eu quero poder dormir só de calcinha e camiseta regata e me saber sedutora, mesmo assim.
Eu quero poder sair de casa de cara lavada e ser atraente, mesmo assim
Eu quero poder usar meu tempo livre passeando com meus cães, em vez de ficar horas no salão de beleza, só porque minha beleza já está comigo, não precisa ser construída artificialmente!
Eu quero poder fazer tricô e isso não ser uma mancha no meu currículo de mulher moderna!
Eu quero poder chorar a morte da minha Tia, sozinha, em baixo do chuveiro, e isso não ser um demérito na minha tão conclamada "personalidade forte".
Eu quero poder ser eu mesma, sem retoques, porque não sou obrigada a concorrer com as inúmeras garotinhas "photoshopadas" das revistas "masculinas".
Eu quero poder olhar meu parceiro e rir com ele dos absurdos que fazemos juntos, naqueles momentos em que as revistas, masculinas e femininas, aconselhariam "SENSUALIDADE MÁXIMA"
Eu quero mesmo é poder contar a lição que tenho aprendido neste último ano:
- Mulheres como eu, não queimem seus sutiãs. Queimem as revistas. Elas estão todas mentindo!!!
Posso afirmar - por ter ouvido de uma fonte fidedigna - que os homens gostam quando as mulheres se sentem bonitas, mesmo com cara lavada, e as preferem assim, porque ser bonita é diferente de estar bonita.
Os homens gostam de mulheres que dormem com roupinhas molezinhas, de algodão...
Os homens gostam de mulheres que dão risada com eles e que, quando olham nos olhos, carregam um sorriso discreto e quase imperceptível ao olhar dos outros. Um sorriso pactuado e cúmplice na molecagem...
Mulheres, esqueçam os perfumes que dominam o ambiente... Prefiram aqueles perfumes que só se pode sentir de perto! Nada melhor do que conciliar múltiplos sentidos, no caso, tato e olfato...
Os homens gostam de mulheres que se disponham a cozinhar pra eles, ou cozinhar com eles, ou não cozinhem, mas comam com eles...
Os homens gostam das mulheres que se expõem. Não as que se exibem, mas as que se deixam conhecer!
Os homens gostam de mulheres seguras, é um fato. Porém ser segura significa conseguir absorver o impacto causado pelo medo, não significa fingir que o medo não existe!
Os homens gostam de mulheres delicadas. E ser delicada não é ser um bibelô, uma boneca de açúcar. Ser delicada é saber aceitar a dor, se ela vier, saber viver a alegria, quando ela chegar, é comemorar humildemente a conquista, quando ela acontecer. Tudo isso sem estardalhaço. Essa é a maior delicadeza.
O que acontece entre um casal, pertence somente aos dois. A mais ninguém. Essa é a delicadeza das mulheres fortes.
- Mulheres como eu, deixem suas amigas fora da sua intimidade!!!
- Mulheres como eu, entendam que a fantasia é diferente da realidade: maquilagem deixa a mulher bonita, mas deixa também um gosto químico na boca do parceiro, meia fina dá um ar de elegância, mas dá muito trabalho pra tirar, perfume forte esconde seu aroma natural, roupas rebuscadas dificultam o contato com a pele.
- Mulheres como eu, acreditem: sensualidade é diretamente proporcional ao bom humor.
Tudo o que as revistas femininas preconizam como garantia para causar uma boa impressão é a mais pura balela!
Simplesmente porque, segundo o meu parceiro, mulher não entende nada de mulher. Pelo menos ele me diz isso sempre "Tâni, você não entende nada de mulher". Sou obrigada a concordar!
As revistas masculinas também não merecem crédito!
Afinal, qualquer homem que se preste a contar em uma pesquisa ou entrevista, detalhes sobre a sua intimidade afetiva, sobre suas preferências e fantasias, somente pra ser mais um na estatística da sexualidade de bancas de jornal, é, no mínimo, pouco confiável. Creio que essas reportagens sirvam mais como promoção do ego masculino do que como um guia confiável pra mulheres solitárias, como as que lêem revistas femininas! Talvez os homens entrevistados nem existam, porque as mulheres que eles descrevem certamente só existem num universo imaginário!
Mas eu me descobri existindo, sem maquilagem. E meu parceiro ressurgiu, rindo comigo depois de uma molecagem...
Depois de tudo isso, só me resta declarar: eu fiz curso de corte e costura, de arte culinária, de bordado em talagarça e vagonite, durmo de calcinha de algodão e camiseta regata, quase não uso maquilagem, meu cabelo só vê o cabeleireiro de quando em vez, meu perfume é o mesmo há 13 anos, dou risada durante a intimidade, falo dormindo, ronco, choro muito até esvaziar o peito quando sinto dor, e não leio revistas femininas.
Adoro quando o meu namorado troca de lugar comigo na calçada pra me proteger do trânsito, quando ele me chama pra almoçar, mesmo que correndo, quando se comunica comigo durante o dia, como um menino, mandando incansáveis mensagens pelo SMS, quando ele olha pra mim e me diz, " você está tão linda"...
Aprendi que a melhor forma de agradecer esse amor todo é acreditando, e sorrindo, silenciosamente! De uma forma muito feminina, quase recatada. Ele me ensinou isso!
Eu faço tudo ao contrário do que ensinam as revistas femininas.
Ele é o contrário dos homens que relatam suas experiências em revistas masculinas.
E acreditem, homens como ele gostam de simplicidade, nada de elaboração. E, principalmente, gostam de mulheres que se permitem ser mulheres... Pelo menos o meu, que me faz carinho, que troca de lado comigo na calçada, que carrega a minha mochila, que faz o pedido pro garçom no restaurante, que me elogia e me aconchega o tempo todo; gosta!
Revista feminina nenhuma no mundo me ensinaria isso.
Revista masculina nenhuma me escolheria como um exemplo de sedução.
Mas, que se lixem as revistas.
Sedução é outra coisa. Acreditem: esta é a verdade. Hoje eu sei!
Ah, esqueci de dizer: Sim, eu também sei fazer tricô!