quinta-feira, 17 de abril de 2014

Círculo vicioso do Silêncio, Parte III: Constrangimento, Constrangido, Constrangedor.


silêncio 
si.lên.cio 
sm (lat silentiu1 Ausência completa de ruídos; calada. 2 Estado de quem se cala ou se abstém de falar; recusa de falar. 3 Abstenção voluntária de falar, de pronunciar qualquer palavra ou som, de escrever, de manifestar os seus pensamentos. 4 Taciturnidade. 5 Discrição. 6 Interrupção de um ruído qualquer. Abstenção de publicar qualquer notícia ou fato, de comentar o que é geralmente sabido. 8 Descanso; estado calmo; estado de paz, de inação. 9 Interrupção de correspondência epistolar. 10 Mistério, segredo. 11 Ausência de menção; omissão em uma relação verbal. 12 Suspensão que faz no discurso o orador ou a pessoa que fala. 




Esta semana presenciei uma situação de constrangimento coletivo que jogou no lixo uma tarde inteira de trabalho, de diversas pessoas.
Um constrangimento causado por um comentário simples, "bestinha" mesmo, solto em um momento inadequado, em um tom indevido, diante de um grupo que se reúne apenas para realizar um trabalho.
Um comentário feito ainda com base em moldes antigos, onde privilégios e situações garantiam voz a alguns e submissão a outros. 
Constrangimento geral.
Trabalho perdido!
Mas, presenciei também a realização do mesmo trabalho em outros moldes, quando o elemento constrangedor se distanciou do ambiente em questão...
... (pausa para a reflexão)

E o que é constrangimento?

Vai aí a definição do Michaellis:

constrangimento 
cons.tran.gi.men.to 
sm (constranger+mento21 Ação ou efeito de constranger. 2 Acanhamento, embaraço. 3 Força exercida sobre alguém para obrigá-lo a agir contrariamente à sua vontade.

Esta é a definição do dicionário. Não há o que discorrer sobre ela, mas podemos refletir sobre o desdobramentos dela, não podemos?....

Vamos lá:
Muitas vezes o ato de constranger se dá pela força do hábito. Sem intenção, sem má-fé. Dá-se apenas pelo exercício de uma conduta equivocada, que de tão repetida, torna-se um hábito institucionalizado contra o qual ninguém mais se move, por preguiça, por cansaço, por falta de fé ou por saco cheio.
É determinante para a prática do constrangimento a ausência de uma autoridade instituída que, nas atribuições de sua função, coíba os excessos e o faça em nome de todos, no exato momento em que o constrangimento acontece.
O constrangedor age movido pela certeza de que a autoridade superior não vai agir, por negligencia ou por ausência física. Chamo isso de "Conduta recorrente dos Ratos Alfa". É aquele hábito, comum nos grupos onde, quando o gato (figura de autoridade) se retira, os ratos sobem na mesa. Existe sempre um que sobe primeiro. A este, dou o nome de "RATO ALFA"! Normalmente o Rato Alfa é o campeão na geração de constrangimento dentro dos ambientes em que atua e o faz de forma automática, muitas vezes até sem perceber, impulsivamente.

Mas a inércia dos que se calam diante do constrangimento também é responsável pela atitude do rato alfa, não somente a sua falta de bom senso...

Mas, voltando ao ato de constranger, afirmo que a possível ausência de má-fé do constrangedor não absolve o ato de constranger, nem tampouco reduz a responsabilidade sobre o ato. Apenas os torna, CONSTRANGIMENTO E CONSTRANGEDOR ainda mais repulsivos do que já são, por serem inconscientes, por serem irracionais, por serem impulsivos, por serem desmedidos, vaidosos, egoístas e cegos no que tange aos fatos ocorridos ao seu redor, no passado, no presente e pro futuro!

Mas e quando o constrangimento se dá de forma voluntária, determinada e continuada?
O que fazer contra o constrangimento deliberado?

Vociferar não adianta, porque como já disse, plagiando um comentário que li hoje: "quem quer acreditar em algo, acredita mesmo sendo mentira. Quem não quer acreditar em algo, duvida, mesmo sendo verdade..."

Contra o constrangimento deliberado só existe um antídoto: atenção ao discurso,cautela e bom senso.

Muitas vezes o constrangimento se dá com base em fatos não esclarecidos, mas repetidos à exaustão. Se dá por força do sentimento de inferioridade em relação às estruturas que nos cercam, se dá pelo forte desejo de converter privilégios em direitos. Se dá através da projeção do medo, onde situações ocorridas de forma individual se transformam em uma ameaça coletiva. 
Muitas vezes, em situações de constrangimento, as pessoas temem algo que sequer sabem definir, nem situar, nem explicar. Temor abstrato que move todos na direção do abismo, como sugere a Bíblia: "Pode um cego livrar o outro do precipício?" 

O constrangimento se alimenta da insegurança e da dúvida. Se sustenta através da verborragia, do discurso inflamado, da exaltação de ânimos, nos moldes existentes nas instituições religiosas que clamam aos céus em um exercício de oratória inflamada, muito mais do que numa prática de fé.

A oratória inflamada coopta mas também constrange. Oferece proteção mas também ameaça docemente, oferecendo tutela contra um monstro que, de fato, não existe. E, se existe no universo de alguns, pode não ser uma ameaça real e, portanto, não deveria amedrontar a todos.

Vemos fatos assim acontecendo todos os dias, através de notícias manipuladas pela mídia, através de discursos apocalípticos nas praças, nas igrejas, nos clubes, nos botequins, na televisões que transmitem programas sensacionalistas no horário do almoço, fazendo com que o medo penetre sorrateiramente nas nossas almas e faça delas a sua morada.

E a pergunta que não me canso de fazer é:
— Temos medo de quê?

Deveríamos ter medo somente de nós mesmos: de nossas limitações, de nossas incapacidades, dos nossos limites, de tudo o que imaginamos estar escondido em nós mas encontra-se perfeitamente visível a todos, e a olho nu!

Nós somos nossos maiores algozes, portanto, nenhum constrangimento externo deveria ser maior do que nossa capacidade de questionamento, reflexão e decisão, afinal, nossas escolhas são responsabilidade nossa, a despeito dos métodos de convencimento aos quais somos submetidos durante a vida.

— Cruel? 
Sim, mas é assim...
... o resto, fica por conta de cada um....