quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Círculo vicioso do silencio - Parte IV: Colisão




Muitas coisas por dizer, mas o vazio é tanto que as palavras me fogem, esquecem-se de mim, driblam meu vocabulário extenso e vão se alojar na cabana do silencio...

Muitas coisas por lembrar, mas a memória fraca me trai a lembrança e se acomoda no vazio do lugar desocupado.

Muitas coisas por fazer, mas o braço não mais alcança a caixa de ferramentas e deixo o serviço pra amanhã.

Muitas coisas por partilhar, mas o futuro incerto transforma minha generosidade em um artigo de luxo no cardápio de minhas disponibilidades.

Toda uma vida por divulgar, mas o cansaço me impõe férias morais.

Férias de distância, de silencio e de sono profundo.

Quem sou eu, senão a memória das minhas crias, alimentando mesas de banquetes outros que não o meu?

Quem sou eu senão uma artesã de ideias que tomam vida em outras mãos?

Quem sou eu?

Alguém em rota de colisão consigo mesma, prestes a virar pó.

Em vias de desaparecer, como num sopro...

sexta-feira, 13 de junho de 2014

"Olhos de ver, ouvidos de ouvir"


Quem assistiu o jogo de abertura da Copa do Mundo de Futebol, no dia 12/06/2014, com transmissão ao vivo pelo complexo Globo de Televisão (que inclui também canais esportivos Sportv e ESPN) e retransmissão por outras televisões sem nenhum direito de captação das imagens, apenas de retransmissão, viu que:

O estádio da abertura da Copa do Mundo de Futebol, situado na Zona Leste de São Paulo, Sede do Time de futebol mais popular do país, estava tomado por uma população diferente do que se vê nas ruas da região, da cidade e do país: Vimos mulheres finamente maquiadas, perfumadas e prontas para o close no telão do estádio, a ser transmitido para o mundo, acompanhadas, invariavelmente por seus parceiros (as) de torcida, também, e igualmente, produzidos para o jogo de abertura do campeonato mundial de futebol, tão atacado por todos, nos últimos meses.

Tive o trabalho de contar: entre aquela imensa multidão de 62 mil torcedores brasileiros encontrei exatos 7 negros nas oportunidades em que a câmera fazia seu "tour" pela arquibancada. Como é possível tamanha disparidade em um país mestiço e predominantemente NEGRO?

Não estavam presentes no estádio os reais e tradicionais torcedores de futebol.

Estavam no estádios torcedores bissextos e inabituais, que lá estavam para acrescentar mais um evento, à sua lista de eventos "imperdíveis do ano".

Não vi um torcedor autentico de futebol, de shorts despojado e roupa de arquibancada. 

Não vi uma família sequer que lá estivesse sentada sem sua câmera fotográfica, seu celular de última geração ( inclusive com câmera fotográfica de alta definição), seu "abadá" de classe média emergente.

Não vi também nenhum aglomerado de torcida uniformizada, realmente uniformizada, não somente "fantasiada de torcedor".

Não vi a população que chora ao ver um gol da seleção, porque este é o alento da caraça carcomida pela semana de trabalho.

NÃO VI!

Mas ouvi uma vaia retumbante que muitos afirmam ser a demonstração do que pensa a população do país.

Mas a população do país, de fato, não estava lá! Lá estavam os representantes de uma parcela muito bem definida da sociedade, que está lutando com unhas, dentes e deslealdade para defender seu lugar ao sol.

É justo que assim o queiram, mas não é justo que se coloquem como representantes de toda uma população, desse imenso país sem representatividade nas cadeiras do Itaquerão, na estréia da Copa do Mundo.

Meu olhos me mostraram que a vaia presenciada no estádio veio de bocas que não querem os negros nos estádios, não querem os pobres nos aeroportos, não querem as domésticas usando perfume importado, não querem os marmiteiros utilizando celular 4G, não querem os assalariados, com renda familiar de até 5 salários mínimos, fazendo turismo ou comprando carro; não querem os adolescentes da periferia frequentando o shopping-center, não querem as crianças das escolas públicas pleiteando vagas nas universidades públicas, não querem os desempregados adotando o micro-empreendedorismo, não querem a real unificação da saúde e dos acessos civis a direitos que deveriam ser de todos.

Foi isso o que me mostrou o padrão FIFA: mostrou-me que o Brasil tem um padrão próprio: o PADRÃO DE EXCLUSÃO NACIONAL. 

Vi os representantes deste padrão presentes em massa na cerimônia da Copa, pagando, no mínimo, módicos R$300,00 por ingresso, demonstrando o quanto incomodam as mudanças sócio-econômicas empreendidas neste país nos últimos 11 anos.

Tantos discursos engajados contra tudo, inclusive contra a copa, mas muitos dos discursantes desembolsando uma pequena fortuna que representa, em muitos casos, a renda de uma família inteira, somente para não perder a oportunidade de ver-se, e ser visto, no telão de LED da cerimônia de abertura do Campeonato Mundial de Futebol...

Muitos não viram o que eu vi, ouviram apenas a vaia, tão "PATRIOTICAMENTE" ostentada pelas redes sociais, quase que instantaneamente, como se já estivessem esperando por isso.

Não viram, porque aquilo que não é visto, não é lembrado, e talvez, muitos destes "emergentes-pseudo-engajados" de hoje já tenham até mesmo perdido de vista de onde vieram, de que classe ascenderam, e por quais mãos.

E agora, consolidada a ascenção, o melhor mesmo é botar uma pá-de-cal sobre o caminho percorrido, para que as memórias não nos tragam vergonha de não sermos sequer capazes de torcer pela nossa nação com mais conhecimento de causa, com mais informação, com mais decência e dignidade.

E esta desinformação continuada, amplificada pela manipulação persistente, bradou ontem no estádio, de forma descarada: "Ei, Dilma, vai tomar no Cú"

Queridos, ela certamente já deve ter tomado, "LITERALMENTE" e certamente este "tomar no cú" literal deve ter-lhe dado forças para sentar-se ali, onde ela estava ontem, pensando internamente: SENHOR, PERDOAI-OS, ELES NÃO SABEM O QUE DIZEM...

E, lamento, mas os corajosos patriotas que bradaram tão honrosamente o "Ei, Dilma, vai tomar no cú" estão com, aproximadamente, 40 anos de atraso em seu BRADO RETUMBANTE e com cerca de 502 anos de defasagem em sua visão de mundo e expectativas de futuro!


segunda-feira, 26 de maio de 2014

Redimensionando conceitos




Em 2000, milhões e milhões de Brasileiro acessaram o Site da Fifa, inúmeras vezes, para votar na eleição do Brasil para sediar o Campeonato Mundial de Futebol.

São também eles, responsáveis pela vinda da Copa para o Brasil. Porém, esquecem-se disso quando são inflados a se manifestar contra o campeonato mundial...


Em 2007 os mesmos brasileiros se ufanavam da vinda da copa para cá! 


— O que mudou


— Mudou que em 2007 não havia eleições presidenciais e não havia nenhuma mobilização política empenhada em desestruturar a imagem do país lá fora, que por sinal, vai muito bem, obrigado!!!! 



Em 2007 estávamos todos vibrando e torcendo pra que 2014 chegasse logo para rufarmos os tambores e ganharmos muitas verdinhas às custas dos turistas:
— Vendendo cerveja supervalorizada na orla marítima das cidades-sede à beira-mar;
— Oferecendo diárias estratosféricas, no comércio hoteleiro, super valorizadas em relação a outros períodos do ano;
— Renomeando os pratos comuns, criando cardápios caríssimos a serem oferecidos nos restaurantes das cidades sede, não é mesmo?
Estas entre outras estratégias do comércio visando o ganho rápido e certo advindo da presença de turistas em nossas cidades...

Ou por acaso, a população honesta desse país acha que o comércio varejista não iria jogar os preços lá em cima, pra ganhar em cima dos torcedores de todo o mundo que virão pra cá assistir o mundial? 

E a isso, damos o nome de que? 

Não dá pra chamar de corrupção, porque não envolve dinheiro público. Mas talvez, possamos chamar de ma-fé? oportunismo? apropriação indébita? estelionato? Ou simplesmente de desonestidade mesmo...

E, depois de tanta manipulação de informações, depois de tantos cálculos feitos pela mídia oportunista, utilizando somente os números apresentados pelos veículos de comunicação, desconsiderando os dados do governo, no cômputo geral dos gastos, toda a verba utilizada em estádios, que tem indignado tanto a população, não chega a UM dia de investimentos governamentais na educação ( que, diga-se de passagem, tem um déficit de décadas, pára não dizer, de séculos....)!!!

Os valores públicos investidos nos estádios são na realidade empréstimos que os clubes pagarão com a devida correção.
As obras viárias e de infra-estrutura, superdimensionadas para servirem à população futura, não somente aos turistas de junho, ou os habitantes de hoje, mesmo que ainda não totalmente concluídas, ficarão para a população, depois que a copa se for...

E a nossa imagem final qual será?

— A de um país que não sabe anfitrionar?
— A de um país cujo comércio quer ganhar todo o dinheiro do ano, explorando seus turistas em apenas 30 dias de campeonato?
— A de hospedeiros-comensais que querem se locupletar com o dinheiro estrangeiro, trazido de boa-fé pelos torcedores de todo o mundo?
— A de um povo que sequer conhece as reais condições sócio-econômico-governamentais em que vive e não se intimida em falar bobagens mundo a fora, com sua vaidade inflada pela grande mídia, de forma inversa e negativa?

— Lanço aqui alguns desafios:

  • Desafio todos os donos de bares, restaurantes e afins a venderem refrigerantes a R$3,50, cerveja pelos preços de hoje, PF a, no máximo, R$12,00.
  • Taxistas que façam o percurso correto com seus passageiros, independentemente de serem turistas estrangeiros pagando em dólar (ou euro);
  • Desafio proprietários de imóveis disponíveis para a locação a manterem os preços nos patamares de mercado, desconsiderando a vinda dos turistas;
  • Desafio as padarias a venderem lanches, pão e leite pelos mesmos preços praticados com habitantes locais;
  • Desafio supermecados e comércio varejista a manterem os preços durante a copa análogos aos praticados hoje
  • Desafio todo o ramo de serviços a demonstrar sua hospitalidade tratando os turistas da mesma forma que tratam os locais...

Desafio a população a abrir mão do oportunismo imediatista, comum durante os grandes exemplos, e exercitar sua honestidade íntegra e absoluta, apenas durante os dias do mundial.
Desafio...
D-E-S-A-F-I-O!

Perceberemos que não temos sido honestos nem conosco mesmos, e esta e a origem de todos os nossos males!

Enchemos a boca quando é para falar de desonestidade, de superfaturamento e superdimensionamento de preços quando o dinheiro é público. 

Mas... e quando esta conduta é privada, praticada pelo comércio, pelo cidadão comum, que quer "apenas ganhar um dinheirinho extra", ou, num olhar mais distante e profundo, pelos pais que estimulam seus filhos a "fazerem de tudo" para serem os melhores em suas tarefas, ensinando que o importante é ser bem sucedido, independentemente dos meios???
 — Aí, pode?
— Não, não pode!
— Tem menos impacto sobre a vida da sociedade?
— Não, gente, não tem não!

São condutas aparentemente tolas do nosso dia-a-dia, mas tão oportunistas quanto qualquer descalabro público, que impactam nossas vidas, muito mais do que qualquer estratégia política do governo!

Somos muitos, e tantos, que juntando os pequenos "oportunismos" individuais cometidos "inocentemente" a cada dia, geramos, nós, os reclamantes, um déficit social muito maior do que qualquer fenda financeira governamental.

Se a questão é cobrar HONESTIDADE, sejamos nós também honestos, ou perderemos o direito de alegar oportunismo dos políticos.

Porque os políticos não nascem eleitos. Nascem cidadãos como qualquer um de nós. E crescem vendo seus pais, seus vizinhos, seus núcleos de convivência cotidiana, seus conhecidos, simpáticos ou não, manterem viva a conduta do oportunismo, onde é preciso ser esperto para sobreviver.

Por que é preciso ser esperto?
Não basta ser honesto?
Não basta ser correto?
Somos nós os verdadeiros agentes do descalabro público, na medida em que vamos, pouco-a-pouco nos distanciando desses princípios!

Nós, dentro de nosso núcleos familiares: é nesses núcleos que são gerados os políticos, não na política.
São gerados nas casas onde a "esperteza" não é punida com a severidade necessária. Onde o oportunismo é tolerado, se trouxer vantagem para o oportunista. Onde a lei de Gerson é até valorizada, desde que a vantagem venha com certeza absoluta!
Os políticos, e a política, são o reflexo do que somos nós como estrutura tolerante com o jeitinho, que acoberta pequenas vantagens na vida privada, mas cobra preços altos de quem está na vida pública.

Hipocrisia que somente será saneada através de um trabalho duríssimo a ser implementado durante algumas gerações para alcançar êxito.

Por enquanto, pergunto: com que cara, brasileiros, queremos cobrar honestidade dos que nos governam se não somos, nós mesmos, no nosso dia-a-dia, capazes de planejar uma recepção de turistas neste mega-evento sem superdimensionar todas as condutas financeiras que serão praticadas, não somente pelo governo, mas por cada um de nós?! 

E só a titulo de curiosidade: aqueles que estão descendo o pau na copa, assistirão os jogos onde? Torcerão, a favor ou contra, junto com quais amigos? Aproveitarão o feriado de que maneira? 

— Ah, por favor, né?....
Um pouco de auto-crítica, no âmbito social, às vezes pega melhor do que uma manifestação pública manipulada, insuflada ou mal conduzida.
———————
Neste sentido, aproveito a oportunidade para tirar o meu chapéu para o MSTS, que vai às ruas, mostrar que quando a reivindicação é justa, não é necessária baderna, e por isso não acolhe infiltrados em suas fileiras, mantém seus integrantes organizados, caminhando pacificamente pelas ruas de uma cidade como São Paulo, aos milhares, sem que haja nenhuma ocorrência de vandalismo ou violência.

Aproveito para solicitar: observem com um carinho maior a conduta dos movimentos populares, REALMENTE POPULARES, que atendem às demandas dos REALMENTE DESFAVORECIDOS, para aprender com eles o que significa reivindicar.

Talvez a sociedade, para poder se indignar com tanta fúria, de forma justa, precise primeiro se calar diante de suas próprias falhas para, em seguida, redimensionar seus conceitos de honestidade, esperteza, oportunismo e civilidade, a serem cobrados de seus governantes....

sábado, 10 de maio de 2014

Palavras de além-mar


Sr. Ney Matogrosso, falemos sobre a Copa do Mundo:
As campanhas para conquista de País Sede de copa do Mundo acontecem com um prazo de aproximadamente 3 copas de antecedência e o país eleito assume um compromisso formal, assinado entre todos os integrantes do Comitê da FIFA, para o cumprimento das condições de hospedagem, viárias, e de infra estrutura.
O Brasil conquistou este status sem que houvesse nenhuma outra candidatura concorrente. Portanto, o Brasil, no início deste século, candidatou-se a hospedar o Campeonato Mundial de futebol, tendo seus olhos voltados às vantagens que viriam agregadas à competição.
Logo, as condições que estão sendo cumpridas agora, pelo governo Dilma foram assinadas a assumidas no início do Governo Lula, mas são frutos de negociações iniciadas e conduzidas durante no Governo que os antecedeu. Portanto, ainda que haja a pergunta: “por que o Brasil se candidatou a sede da copa se a infra estrutura não é compatível?” parece-me que a indignação com o fato está sendo dirigida aos governantes errados.
Se o governo responsável péla candidatura do Brasil à Copa tivesse permanecido, o dinheiro que está sendo aplicado pelo Governo Federal e Estados para construção de estádios e ARENAS, além das estruturas viárias, viria da iniciativa privada, que lucraria sozinha com os lucros do investimento em turismo e serviços....
Com a mudança nas diretrizes do governo os apoiadores privados foram se retirando e então os Governos Federal e Estadual tiveram que assumir os custos de realização das obras comprometidas desde a eleição do Brasil como sede da copa. Então, quem está pagando o pato é o atual governo, mas...
... Mas toda a estrutura da copa foi montada para ser um sucesso financeiro para os apoiadores privados que foram se retirando depois da mudança de governo e isso não chega ao conhecimento da população porque a mídia não divulga....
Sobre a saúde na década de 50: Era realmente melhor.
E, esclarecendo: quem era o presidente da república até 1954? Getúlio Vargas, que governou o país em duas fases, na qual se encontra o período do Estado Novo, ditadura de esquerda, onde foram consolidadas a maioria das conquistas trabalhistas do país!!!! Reeleito pelo voto direto em 1951, governou até 1954, quando suicidou-se por conta da forte oposição das estruturas de elite e da direita, que jogavam muito pesado, desenhando um golpe que se confirmou na década de 60.
Na sequencia os dois grandes nomes foram Juscelino Kubitschek, cujo lema "50 anos em 5" trouxe arrojo governamental e, no bojo da construção de Brasília, estufou a dívida pública do país, gerando um curva inflacionária contínua e crescente. Jânio Quadros, com um discurso de moralização, famoso "varre-varre-vassounrinha" jurava varrer a corrupção do país, mas sua gestão durou menos de 1 ano, quando, com a renúncia, cedeu a vez a, João Goulart, esse sim, herdeiro político de Getúlio, que retomou as diretrizes do seu mentor que havia se suicidado.
O que aconteceu?
As elites brasileiras, assustadas com os projetos sociais em estudo no governo de Jango, organizaram-se em manifestações "populares", contrárias às mudanças que se esboçavam, contra a corrupção, contra os desmandos. Mas os desmandos estavam na verdade sendo revelados, e eram antigos e anteriores ao governo em curso, sob condução de João Goulart. Mas mesmo assim o povo ganhou as ruas, em manifestações populares imbuídas de uma grande indignação contra o governo... 
— Vê alguma semelhança cm nossos dias, Sr. Ney? Pois as semelhanças deram resultados funestos!
— O Golpe Militar e 35 anos de ditadura, onde a saúde da população não teve o menor cuidado, onde o salário mínimo seria, em dias de hoje, cerca de 95,00, onde as raízes da hiperinflação foram plantadas, onde as diretrizes do ensino público impuseram como melhoria somente o ensino de Educação Moral e Cívica, com o objetivo de defender os ideais de direita do governo militar.
Na sequencia ao golpe, tivemos 20 anos de governo do PSDB, este sim responsável pelo alto índice de analfabetos funcionais em idade produtiva no país, quando estabeleceu o regime de progressão automática nas escolas públicas, onde, para diminuir a evasão escolar, aprovou uma lei onde os alunos do ensino fundamental (1.ª a 4.ª séries) não podem ser reprovados. E o índice de analfabetismo não regrediu, mas as pessoas estudavam pelo menos até a quarta série. Que vantagem há nisso? 
— Respondo: A vantagem de formar uma massa de manobra, formada por cidadãos sem capacidade de compreensão, de questionamento e avaliação.
Cidadãos capazes de emitir opiniões sem fundamento e capazes de disseminar informações sem procedência confiável.
Conhece alguém assim, Sr. Ney?
Neste período PSDBista as Universidade sofreram os maiores cortes em verbas de pesquisa da história e a desvalorização salarial dos professores alcançou níveis estratosféricos.
Sem falar na desestruturação de instituições financeiras sólidas que ruíram por força de desmandos administrativos (como o Banespa, do qual inclusive fui funcionária e de onde me desliguei à época da intervenção)
Pois então, Sr. Ney Matogrosso, voltando à educação: O que provocava a evasão escolar por reprovação não era a dificuldade intelectual dos alunos nem mesmo o não aprendizado, aferido pelas notas nas provas. Eram as faltas, porque as crianças saíam da escola para trabalhar com os pais..... ou para os pais.... ou pra ficar em casa enquanto os pais trabalhavam.... As provas nem sequer aconteciam, porque o aluno, via de regra, saía da escola já no primeiro bimestre letivo.
Então daí vem o “Bolsa Família”..
O “Bolsa Família” foi pensado da seguinte forma: quanto uma criança ganha trabalhando com os pais, ou vendendo bala nos faróis, ou ficando em casa enquanto os pais iam trabalhar...
Desta equação saiu um valor inicial de cerca de R$ 60,00 mensais PARA QUE AS CRIANÇAS FOSSEM PARA A ESCOLA!
E aí vem a demonstração de que o senhor, Sr. Ney, como a maioria da população, está replicando informações sem procedência confiável, repetindo o que ouve na mídia como se verdade fosse, acredita em tudo o que lê nos jornais, e, sem condições mínimas de avaliação de conteúdo do que está sendo divulgado, como a maioria da população que está indignada, profere suas queixas em uma Televisão de Portugal, mesmo sem saber qual é a origem dos problemas.
Pois bem, Sr. Ney, saiba que as famílias que não mantém seus filhos na escola PERDEM O BENEFÍCIO DO BOLSA FAMÍLIA. Ir à escola é condição sine-que-non para receber o benefício. É uma bolsa de estudos para as crianças, daí o nome: Bolsa Família. A criança estuda e a família se favorece disso. E neste caso, em um país em que as crianças estudam, a família somos todos nós!
Sr. Ney o senhor está desinformado sobre os índices de natalidade no Brasil. Na década de 50 a média de filhos de uma família era de 7 a 8 filhos por casal.
E este índice se manteve por mais de 20 anos. Na década de 80 este índice já era de 4 por casal e atualmente este índice não ultrapassa os 2 filhos por família, em média.
Então, não procede a afirmação de que as pessoas fazem filhos pra ganhar o “Bolsa Família”. Esta afirmação pode ser considerada uma redução desleal do Projeto social em curso, ou fruto de algum tipo de analfabetismo funcional, desinformação ou má-fé.
Sobre a corrupção ser muito mais visível no governo do PT, Sr. Ney, tenho o seguinte a dizer:
Na realidade, nos últimos 10 anos o poder judiciário realmente ganhou uma liberdade maior em relação ao executivo e legislativo. O resultado disso é que as denúncias são investigadas e seguem a tramitação até o julgamento, que mesmo que seja demorado, acontece.
Até o início deste século as denúncias aconteciam e eram abafadas nos gabinetes políticos, não chegando nem ao conhecimento da população, o que dava a sensação de que a corrupção era menor.
Mas saiba: a corrupção entre os anos 50 e 80 foi inegavelmente maior do que hoje em dia. E os corruptos NUNCA FORAM SEQUER INVESTIGADOS....
Me diga aí, Sr. Ney: O Senhor acha que o caso “Mensalão” foi o único?
Não!
Mas, mesmo o governo sendo PTista os envolvidos foram julgados e estão presos, sem interferência, intercessão ou benefício do Poder Executivo.
Como se chama isso?
— Independência entre os poderes. Um dos pilares do regime Democrático de Direito, contrariando sua afirmação ao final do vídeo de que hoje em dia vivemos um regime ditatorial!
Isso sem falar de todas as irregularidades do julgamento do “Mensalão” cujos resultados além de ilegais afrontam não somente a constituição em muitos aspectos como também, a aplicação das penas avilta uma série de direitos civis, não somente dos condenados, mas de qualquer cidadão.
Aí vem um artista, que deveria levar para o mundo o nosso melhor, aparece em rede de televisão estrangeira, dizendo que a corrupção aumentou muito! Leviandade sua, Sr. Ney! Não aumentou não. Apenas está sendo apurada com mais clareza.
Então parece procedente o ditado que afirma que o que os olhos não veem o coração não sente.
— Posso concluir que todos os fatos irregulares e toda a corrupção do passado, que permaneceram durante anos sob o tapete, não lhe incomodam tanto, Sr. Ney?
— Neste caso, posso eu acreditar que o senhor é indiferente a todos os desmandos e abusos ocorridos nos anos de chumbo deste país?
Não Sr. Ney, não posso! O nome disso é sofisma! Tanto quanto, afirmar que a corrupção hoje em dia é maior do que no passado é sofismar sobre o fato de que a corrupção hoje em dia é mais investigada e punida do que outrora.
Mas, espero que pelo menos o senhor saiba que nosso passado é o cerne de todos estes problemas que o senhor imputa ao governo atual, à Copa da Fifa, à corrupção corrente;  e contra os quais o Sr. se revolta, para além do Oceano Atlântico, “ora pois”.
O senhor sabe disso, Sr. Ney? 
Parece que não, pois levou tanta desinformação  para além-mar que chegou mesmo a assustar o jornalista que o entrevistou, estarrecido com sua conduta, de pessoa que se envaidece à medida em que sua ignorância vai tomando vulto. Que vergonha, Sr. Ney!
A corrupção está mais visível e esta é uma forma da população participar da vigilância que deve haver sobre as questões políticas, mas a população não se informa e acaba vigiando as ovelhas, em vez de procurar o lobo...
Uma pena!
Sobre a mudança nas classes sociais, Sr. Ney, percebi nas suas palavras uma desinformação típica de quem mora em uma cobertura com vista para o mar e possui pouco contato com o povo, a não ser os serviçais que o servem em sua casa.
As pessoas que recebem bolsa família não se transformaram em classe média e nem foi o “Bolsa Família” que aumentou a classe média.
Existem outros programas sociais, dos quais a mídia não fala, como por exemplo a criação das tributações diferenciadas para microempreendedores.
São o Simples e o micro empreendedor individual.
São programas onde a empresa (simples) ou o micro empreendedor autônomo após se cadastrarem junto à receita federal, apresentando a documentação cabível, recebem os benefícios de uma tributação diferenciada, que muitas vezes chega ao patamar ZERO de tributação sobre seus serviços.
Logo, estes trabalhadores que antes eram empregados, ou estavam desempregados ou no sub-emprego, ganhando os salários que a empresa quisesse pagar, ou vivendo de bicos, se lançaram na iniciativa autônoma, gerando um esvaziamento da mão-de-obra sub-remunerada nas empresas e criando uma concorrência mais barata. Diminuindo assim, inclusive, os índices de desemprego no país, como atestam as pesquisas, mesmo as que não são contratadas pelo governo!
Você acha que as empresas gostaram disso, Sr Ney?
Perdem o funcionário de anos, que sabe tudo do trabalho, mas ganha pouco, e ainda por cima oferece seu trabalho como micro-empreendedor, trabalhando por conta própria?
Ou melhor, vão e criam sua própria empresa?
O que você acha que os empresários vão fazer?
—Campanha pra disseminar que o desemprego aumentou porque a economia está em dificuldades.
A economia deles está em dificuldades, porque essa massa de trabalhadores que era empregada e virou autônoma está ela sim, fazendo surgir uma nova classe, considerada a nova classe média, e as empresas estão tendo que gastar os tubos, qualificando mão de obra pra ocupar as vagas que foram deixadas vazias.
Sem falar do FIES: programa de financiamento estudantil, que financia 100% dos custos da universidade com juros de 8% ao ano!
Você sabia, Sr. Ney?
O “Bolsa Família” não acabou com a miséria, mas as crianças, filhas destes miseráveis pelo menos vão pra escola, comem na escola, diminuem a despesa de alimentação da família e os pais ainda recebem o dinheiro que esta criança receberia vendendo bala no farol.
Esta mudança de classes sociais não é para agora?
— NÃO
Até porque, no Brasil, o que chamamos de classes são, na verdade, castas!
Esta mudança é para quando estas crianças chegarem na fase de trabalho.
Para que elas tenham estudo mínimo para não serem catadores de papelão.
Os benefícios do “Bolsa Família” são poucos ainda.
A População só diz que as famílias recebem uma miséria que não dá nem pra alimentar as crianças e que isso não tem resultado nenhum. Quem diz isso, de fato, nunca teve nenhum contato com a miséria real. Não a miséria das cidades, que conhecemos aqui e classificamos como moradores de rua, pobres e excluídos. Aqueles que tanto tememos por serem "vagabundos"! A miséria das cidades é fichinha perto da miséria do interior do país, onde um pai de família você compra um saco de farinha por 20 reais e come angu o mês inteiro com lambari pescado a tapa no riacho com os filhos! Onde as pessoas mantém a vida com farinha e água!
Os resultados do “Bolsa Família” são previstos para acontecerem num período de 20 anos.
Ou seja: o cara que está entrando na universidade hoje, financiado pelo FIES, é filho do “Bolsa Família” das cidades. Mas, no interior do país, os filhos do “Bolsa Família”, talvez estejam hoje comprando a sua primeira enxada para tentar fazer sua agricultura de subsistência, pra tentar permanecer no campo, para não evadir para a cidade, pra calcular suas despesas contando apenas com a instrução que recebeu na escola rural, enquanto seus pais recebiam o benefício do Bolsa Família.
Sem o Bolsa Família este cidadão teria ido pra enxada aos 8 anos, não aos 18!
Então, a nova classe média não surgiu como consequência do “Bolsa Família”, surgiu das novas relações de trabalho, que substituíram o desemprego pelo micro-empreendedorismo. E quem fala da “nova classe média” não é o governo! São os setores de turismo, automobilismo e bens não duráveis que foram francamente aquecidos pelo advento do dinheiro desta população que agora consome mais do que nunca.
Ataques ao “Bolsa Família” deveriam envergonhar aqueles que querem um pouco mais de dignidade para todos. O Bolsa Família não veio sozinho. Veio de mãos dadas com os projetos de erradicação do trabalho infantil (Peti), o programa Territórios da Cidadania, que visa fixar o homem no campo, buscando vencer os tentáculos do agro-negócio e diminuir as desigualdades nas cidades, o programa Luz-para-todos, Brasil alfabetização de jovens e adultos (EJA), que está ajudando a diminuir os danos da “Progressão automática” PSDBista, Pro-Uni, que garante o acesso às Universidades.
Sr. Ney, antes de abrir a boca lá fora e semear informações que desqualificam seu país, por favor, informe-se melhor!!!
Sobre os dez milhões de miseráveis, é verdade, eles existem, mas existem programas sociais tentando reverter esta situação!
Senhor Ney, esqueceu-se de explicar como a evasão do homem do campo para as cidades acontece e quais são as consequências.
Talvez o senhor não saiba. Ignorância imperdoável a quem se mete a falar sobre seu país além das fronteiras territoriais.
Vou ajudá-lo a diminuir tanta ignorância:
O agro-negócio, basicamente monocultor e latifundiário, compra as terras do pequeno lavrador, que pratica a agricultura de subsistência, para manutenção de sua família, por uma ninharia, estabelece uma lavoura de monocultura, utilizando-se de maquinário em vez de mão de obra humana, cujos produtos serão revertidos para o mercado externo. 
Então como fica a afirmação de que aqui, se plantando, tudo dá?
VAZIA!
Exemplificando:
Um grande latifundiário compra cerca de 20 pequenas unidades de terra (com 1500m.² cada), onde moravam cerca de duzentas famílias (10 em cada unidade, considerando-se unidades rurais coletivas), considerando uma família mínima de um casal e um filho, todos lavradores. Seriam cerca de 600 pessoas sem casa e sem trabalho.
Este latifundiário monta sua fazenda monocultora com cerca de 8 tratores, 10 celeiros contendo 5 funcionários em cada. Cerca de 10 colheitadeiras com 2 operadores cada, 5 máquinas ensacadeiras e a fazenda começa a produzir com cerca de 119 trabalhadores.
Vamos multiplicar este número por 2, considerando que o fazendeiro queira que seus funcionários trabalhem apenas meio período (que bonzinho ele, não?) Serão cerca de 238 funcionários numa fazenda de 30.000m² que produz apenas um produto.
Nestas 20 fazendas, quando eram propriedades rurais de lavradores, produzia-se de tudo: arroz, feijão, mandioca, batata, verdura, porco, galinha, fruta, em uma agricultura de subsistência, que alimentava cerca de 600 pessoas (considerando que cada família tivesse apenas 1 filho...)
Agora 30.000m.² de terra dão emprego pra 238 daqueles 600.
E os outros 362? Viverão de que?
Trabalharão onde?
Virão pra cidade tentar a vida. Muitos morarão em prédios ocupados no centro das grandes cidades, como em São Paulo, se instalarão nas favelas, como no rio, ou tentarão voltar para a terra de origem ou para a lavoura, em movimentos de trabalhadores rurais como o MST.
Mas a população não conhece a realidade do campo, nem a vida dos lavradores, nem o agro-negócio e se voltará contra esta legião de refugiados que invadem prédios desocupados esperando a valorização fruto da especulação imobiliária ou terras improdutivas vinculadas a heranças cujos espólios nunca jamais se dividirão por conta de inventários intrincados e morosos..

E a população olhará para esta legião de expropriados e verá neles potenciais bandidos, porque a crueldade da exclusão coloca beneficiados e expropriados vivendo no mesmo habitat, desfrutando de todas as desigualdades que o os torna tão diferentes, apesar de vítimas da mesma conduta política disseminada há séculos!

Somos todos vítimas, Sr. Ney, e nos voltarmos contra uma inversão política que tenta alterar esta situação é por em risco as poucas possibilidades que temos de tornar nossa sociedade um pouco mais humana e horizontal. 
Possivelmente, Sr. Ney, o Senhor acredite que as coisas não estão correlacionadas e que os moradores de ruas das cidades surgiram nas calçadas por geração espontânea! Não Sr. Ney, estas famílias foram praticamente expropriadas de sua dignidade. Muitos acreditam que moradores de rua são mendigos, que os invasores de prédios públicos são baderneiros e que os trabalhadores dos movimentos dos sem terra são invasores criminosos da propriedade privada.
Esta é uma inversão muito desleal!
E a política da monocultura que desagrega lavradores, que alimenta o agro-negócio e que cria moradores de rua desabrigados nas grandes cidades não é uma invenção do PT, nem do Lula, nem da Dilma. Este governo se posiciona contra esta política e são atacados também por isso!
Esta política monocultora iniciou com a cana de açúcar, seguiu-se com o café e perdura até hoje. Agora, com a explosão demográfica das cidades nós temos que pensar numa saída, por questão de segurança pública, porque quem não tem trabalho, moradia, alimentação, saúde, dignidade, vai pro crime.
Por isso a reforma agrária não é uma questão política, nem econômica!
É uma questão de segurança pública! E o digno Sr. Ney Matogrosso deveria ficar calado em relação a isso, já que ele não sabe como as coisas acontecem. Apenas propaga o que escuta, sem tomar conhecimento dos fatos.
Sobre as desapropriações dos espaços para a construção dos estádios, talvez o Senhor Ney devesse tomar conhecimento dos processos de desapropriação e dos tramites seguidos até que as pessoas fossem retiradas dos locais destinados à construção das ARENAS, lembrando que às época da eleição do Brasil para sede da Copa do mundo, TODA A POPULAÇÃO DO PAÍS SE MOSTROU FAVORÁVEL, sem pensar, naquela época, nas consequências.
Quem escolheu as áreas não foi o governo do PT, nem o Lula, nem a Dilma, nem mesmo a Fifa.
Quem indicou as áreas foram os governantes locais à época em que o Brasil foi eleito sede da Copa, há mais de 10 anos atrás. E as cidades brigaram aos tapas para abrigarem as ARENAS, com seus olhos voltados aos ganhos advindos da circulação de turistas e com interesse nas obras de infra estrutura viária e de transportes!
Era responsabilidade dos governantes locais realocarem estes moradores. Mas não o fizeram e aí quem paga a conta? Quem está ocupando o cargo majoritário do país, às vésperas da eleição.
O país tem um compromisso assinado há mais de uma década, recebeu verbas PRIVADAS, não públicas, para construir os estádios, porque o dinheiro está com o governo, mas não é do governo, nem da população, veio dos patrocinadores vinculados à FIFA e o dinheiro público que entrou na jogada entrou como verba emergencial, à medida que os patrocinadores PRIVADOS foram desonrando seus compromissos financeiros com a realização das obras. Por isso este dinheiro não pode ir pros hospitais, nem escolas, nem estradas.
Desculpe-me, Sr. Ney, mas acho que o senhor não sabia disso quando disse “se tinha tanto dinheiro assim, por que não resolver os problemas de saúde, de educação e de transporte do povo?” Mais uma demonstração de desinformação da sua parte!
Sobre a polícia, tenho que concordar com o Ney: é uma instituição fascista mesmo! Poucos, em sã consciência, tendo outras opções, se candidatariam a carreira de policial por altruísmo. Talvez haja mesmo em muitos militares um traço de perversão de personalidade. E os perversos matam sem motivo.
Matam reputações, matam projetos positivos para o futuro, matam até pessoas.
Talvez a copa do Mundo não devesse mesmo vir para o Brasil, mas não pelos motivos expostos pelo Sr. Ney em Portugal.
Não deveria porque, no país mais boleiro do mundo, a Copa do Mundo está sendo pensada para os turistas, não para aquele cidadão pé-descalço que é louco por futebol e daria a vida para estar no estádio em um jogo de Copa-do-mundo. Mas este cidadão não terá vez, porque, como no carnaval, o espetáculo é para poucos...
Mas talvez o Sr. Ney nunca tenha parado pra pensar nisso.

Sr. Jornalista Português, desculpe nossa ignorância!

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Círculo Virtuoso do Silêncio — Parte I: Crime e castigo



Dia estranho!!!
Coração pressentido tempestade...
Tem-nos faltado luz que ilumine os caminhos que trilhamos sem saber onde chegaremos, posto que sequer sabemos de onde saímos....
Sequer conhecemos nossa história.
Sequer lembramos nossos atos e gestos, nossas escolhas e suas consequências. 
Sequer olhamos, solitariamente no espelho, em busca de aceitação...
— O que o espelho nos mostrará?
Nossas faltas e culpas, muito mais do que nossos acertos.

Os acertos se apagam com o tempo.
E as faltas persistirão na memória, mesmo que silentes, até que a mente se encarregue de apagá-las, junto com a herança de vida, através da velhice, da decrepitude ou da morte.
Ou até que a consciência as compreenda e se curve diante de tantos equívocos.

Mas, e o que fazer com a faltas que seguem sem reparação?

Fiquei com a pergunta me acelerando o coração, porque aguardo ainda pela reparação do que foi perdido: o direito de ser feliz em paz!
Aguardo ainda por esta reparação...

Eis que me veio às mãos o texto do livro "O Profeta" de Gibran Kalil Gibran...

- Sobre crime e castigo:
"...
E como ireis punir aqueles cujos remorsos são maiores do que os crimes que cometeram?
Não será o remorso a justiça que é administrada pela própria lei que quereis servir?
NO ENTANTO, NÃO PODEREIS IMPOR O REMORSO AO INOCENTE, NEM ARRANCÁ-LO DO CORAÇÃO DO CULPADO.
Subitamente, à noite, ele convocará os homens para que olhem para si próprios
E vós, que deveis entender a justiça, como o podereis fazer a menos que olheis para os factos à plena luz?..."

Sabendo que ninguém pode impor o remorso ao inocente, em silencio, meu coração se tranquilizou!!!

Fiat Lux!

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Círculo vicioso do Silêncio, Parte III: Constrangimento, Constrangido, Constrangedor.


silêncio 
si.lên.cio 
sm (lat silentiu1 Ausência completa de ruídos; calada. 2 Estado de quem se cala ou se abstém de falar; recusa de falar. 3 Abstenção voluntária de falar, de pronunciar qualquer palavra ou som, de escrever, de manifestar os seus pensamentos. 4 Taciturnidade. 5 Discrição. 6 Interrupção de um ruído qualquer. Abstenção de publicar qualquer notícia ou fato, de comentar o que é geralmente sabido. 8 Descanso; estado calmo; estado de paz, de inação. 9 Interrupção de correspondência epistolar. 10 Mistério, segredo. 11 Ausência de menção; omissão em uma relação verbal. 12 Suspensão que faz no discurso o orador ou a pessoa que fala. 




Esta semana presenciei uma situação de constrangimento coletivo que jogou no lixo uma tarde inteira de trabalho, de diversas pessoas.
Um constrangimento causado por um comentário simples, "bestinha" mesmo, solto em um momento inadequado, em um tom indevido, diante de um grupo que se reúne apenas para realizar um trabalho.
Um comentário feito ainda com base em moldes antigos, onde privilégios e situações garantiam voz a alguns e submissão a outros. 
Constrangimento geral.
Trabalho perdido!
Mas, presenciei também a realização do mesmo trabalho em outros moldes, quando o elemento constrangedor se distanciou do ambiente em questão...
... (pausa para a reflexão)

E o que é constrangimento?

Vai aí a definição do Michaellis:

constrangimento 
cons.tran.gi.men.to 
sm (constranger+mento21 Ação ou efeito de constranger. 2 Acanhamento, embaraço. 3 Força exercida sobre alguém para obrigá-lo a agir contrariamente à sua vontade.

Esta é a definição do dicionário. Não há o que discorrer sobre ela, mas podemos refletir sobre o desdobramentos dela, não podemos?....

Vamos lá:
Muitas vezes o ato de constranger se dá pela força do hábito. Sem intenção, sem má-fé. Dá-se apenas pelo exercício de uma conduta equivocada, que de tão repetida, torna-se um hábito institucionalizado contra o qual ninguém mais se move, por preguiça, por cansaço, por falta de fé ou por saco cheio.
É determinante para a prática do constrangimento a ausência de uma autoridade instituída que, nas atribuições de sua função, coíba os excessos e o faça em nome de todos, no exato momento em que o constrangimento acontece.
O constrangedor age movido pela certeza de que a autoridade superior não vai agir, por negligencia ou por ausência física. Chamo isso de "Conduta recorrente dos Ratos Alfa". É aquele hábito, comum nos grupos onde, quando o gato (figura de autoridade) se retira, os ratos sobem na mesa. Existe sempre um que sobe primeiro. A este, dou o nome de "RATO ALFA"! Normalmente o Rato Alfa é o campeão na geração de constrangimento dentro dos ambientes em que atua e o faz de forma automática, muitas vezes até sem perceber, impulsivamente.

Mas a inércia dos que se calam diante do constrangimento também é responsável pela atitude do rato alfa, não somente a sua falta de bom senso...

Mas, voltando ao ato de constranger, afirmo que a possível ausência de má-fé do constrangedor não absolve o ato de constranger, nem tampouco reduz a responsabilidade sobre o ato. Apenas os torna, CONSTRANGIMENTO E CONSTRANGEDOR ainda mais repulsivos do que já são, por serem inconscientes, por serem irracionais, por serem impulsivos, por serem desmedidos, vaidosos, egoístas e cegos no que tange aos fatos ocorridos ao seu redor, no passado, no presente e pro futuro!

Mas e quando o constrangimento se dá de forma voluntária, determinada e continuada?
O que fazer contra o constrangimento deliberado?

Vociferar não adianta, porque como já disse, plagiando um comentário que li hoje: "quem quer acreditar em algo, acredita mesmo sendo mentira. Quem não quer acreditar em algo, duvida, mesmo sendo verdade..."

Contra o constrangimento deliberado só existe um antídoto: atenção ao discurso,cautela e bom senso.

Muitas vezes o constrangimento se dá com base em fatos não esclarecidos, mas repetidos à exaustão. Se dá por força do sentimento de inferioridade em relação às estruturas que nos cercam, se dá pelo forte desejo de converter privilégios em direitos. Se dá através da projeção do medo, onde situações ocorridas de forma individual se transformam em uma ameaça coletiva. 
Muitas vezes, em situações de constrangimento, as pessoas temem algo que sequer sabem definir, nem situar, nem explicar. Temor abstrato que move todos na direção do abismo, como sugere a Bíblia: "Pode um cego livrar o outro do precipício?" 

O constrangimento se alimenta da insegurança e da dúvida. Se sustenta através da verborragia, do discurso inflamado, da exaltação de ânimos, nos moldes existentes nas instituições religiosas que clamam aos céus em um exercício de oratória inflamada, muito mais do que numa prática de fé.

A oratória inflamada coopta mas também constrange. Oferece proteção mas também ameaça docemente, oferecendo tutela contra um monstro que, de fato, não existe. E, se existe no universo de alguns, pode não ser uma ameaça real e, portanto, não deveria amedrontar a todos.

Vemos fatos assim acontecendo todos os dias, através de notícias manipuladas pela mídia, através de discursos apocalípticos nas praças, nas igrejas, nos clubes, nos botequins, na televisões que transmitem programas sensacionalistas no horário do almoço, fazendo com que o medo penetre sorrateiramente nas nossas almas e faça delas a sua morada.

E a pergunta que não me canso de fazer é:
— Temos medo de quê?

Deveríamos ter medo somente de nós mesmos: de nossas limitações, de nossas incapacidades, dos nossos limites, de tudo o que imaginamos estar escondido em nós mas encontra-se perfeitamente visível a todos, e a olho nu!

Nós somos nossos maiores algozes, portanto, nenhum constrangimento externo deveria ser maior do que nossa capacidade de questionamento, reflexão e decisão, afinal, nossas escolhas são responsabilidade nossa, a despeito dos métodos de convencimento aos quais somos submetidos durante a vida.

— Cruel? 
Sim, mas é assim...
... o resto, fica por conta de cada um....


sexta-feira, 21 de março de 2014

Círculo vicioso do Silêncio, Parte II: A Vantagem, o Delito e nosso Senso de Justiça posto em Xeque

silêncio 
si.lên.cio 
sm (lat silentiu1 Ausência completa de ruídos; calada. 2 Estado de quem se cala ou se abstém de falar; recusa de falar. 3 Abstenção voluntária de falar, de pronunciar qualquer palavra ou som, de escrever, de manifestar os seus pensamentos. 4 Taciturnidade. 5 Discrição. 6 Interrupção de um ruído qualquer. 7Abstenção de publicar qualquer notícia ou fato, de comentar o que é geralmente sabido. 8 Descanso; estado calmo; estado de paz, de inação. 9 Interrupção de correspondência epistolar. 10 Mistério, segredo. 11 Ausência de menção; omissão em uma relação verbal. 12 Suspensão que faz no discurso o orador ou a pessoa que fala. 




De repente você se depara com alguém levando vantagem em algo que deveria beneficiar igualmente a todos.
Aí se lembra que em muitos casos a vantagem não passa disso: apenas uma vantagem. 
Mas, em casos mais extremos a vantagem supera os limites razoáveis ( se é que isso existe...), transformando-se em uma ilegalidade.
Tudo aquilo que transita desde uma simples vantagem até uma ilegalidade se configura em delito.
E aí está você ali, diante de uma situação repulsiva, indesejada, vergonhosa.
E está você ali, ser social, cidadão que convive coletivamente com seus iguais, seus pares, esbravejando do alto do seu direito de discordar, de se revoltar, de se posicionar contra tudo aquilo que está errado.

Neste momento, eu aqui do meu esconderijo, me ponho a pensar nas minhas aulas de português no ginásio, na escola de freiras...
Lá, meu professor de português ensinava que os pronomes pessoais dividem-se em três pessoas do singular "eu", "tu", "ele (a)" e três pessoas do plural "nós", vós", "eles". E este foi o melhor resumo que eu já tive daquilo que é preciso para viver de forma honesta durante toda a minha vida. 
Mesmo que de forma atribulada, entender corretamente a aplicação destes três pronomes e seus derivantes possessivos: meu, teu dele, nosso vosso, deles, é o suficiente para saber conviver de forma decente, respeitando a todos, mesmo que este respeito quando oferecido, e que por direito pode ser cobrado na mesma medida, inflame de forma irreversível alguns, repugne outros e envergonhe outros tantos.

Todo este prólogo para apresentar as seguintes questões: 
— Temos todos por certo que levar vantagem sobre outrem é algo que não deveria fazer parte do rol de comportamentos corteses entre membros de uma sociedade. Correto?
— Temos por certo que a sociedade tem o direito de se revoltar e se insurgir contra todo aquele que secretamente se favorece de algo, de forma delituosa. Correto?
— Temos por certo que a única forma de garantir uma convivência civilizada no seio da sociedade é evitando que vantagens escusas e delitos inaceitáveis, mesmo que pequenos, permaneçam silenciados e impunes. Correto?
— Temos por certo que a justiça aí está para se fazer valer sobre todos aqueles que delinquirem e a não aplicação da justiça provoca em todos nós uma sensação de desajuste social difícil de digerir. Correto?
— Temos claro que a não aplicação da justiça é o maior alimento para os desajustes sociais com os quais nos deparamos e contra os quais no revoltamos. Correto?
— Temos por certo que todos nós, em algum momento, já fomos assolados pela sensação de termos sido injustiçados, punidos de forma incorreta ou desleal. É difícil digerir o gosto amargo que fica na boca e nos causa profundo desconforto, quanto mais quando a punição injusta vem acompanhada pelo silencio obrigatório que nos é imposto por nosso julgador. Correto?
Até aqui, estamos de acordo.
Porém, agora, pergunto eu:
Temos por certo que todas estas afirmações foram conjugadas, invariavelmente, em primeira pessoa?
Temos claro que somente nos voltamos contra atos injustos quando esses atos incidem contra nós ou quando a iminência de uma injustiça nos coloca em risco?

Mas, e se a justiça, ao se fazer valer, bater à nossa porta não para nos proteger, mas para nos cobrar?

Pergunto eu: Como agiríamos se o delinquente em questão fosse um amigo próximo, um filho, um afilhado, um conhecido, um integrante do nosso grupo de convivência cotidiana?
Qual seria a nossa relação com a justiça quando o delito, cuja ação costuma ser sempre conjugada em terceira pessoa ( ele, eles, deles ) passar a ser conjugado em primeira pessoa ( eu, nós, meu, nosso), nos transformando em agentes da incorreção que apontamos nos outros?
Como agiríamos se o delinquente fosse o meu amigo, não aquele estranho distante de mim; se o cara que leva uma vantagem que muitos desconheciam não for aquele deputado do congresso, tão distante de mim, mas for o meu colega de trabalho, que se senta na cadeira ao lado da minha? Como agir corretamente se a descoberta de uma fraude, pequena que seja, for imputada ao meu amigo de academia, ao meu colega da mesa do refeitório, ao meu sobrinho querido, ao meu vizinho de porta, ao meu filho, meu irmão, meu melhor amigo ou meu companheiro?
Será que os laços afetivos, de simpatia, de proximidade ou consanguinidade podem alterar tanto o nosso senso de justiça a ponto de absolver um delito somente pelas afinidades com o delinquente?

E o que é um delito?

Segue aí a definição do Michaellis
delito 
de.li.to 
sm (lat delictu) 1 Fato ofensivo das leis ou dos preceitos do direito e da moral; crime, culpa, falta. 2 Infração de preceito ou regra estabelecida. Flagrante delito: delito quando o agente que o pratica é surpreendido.

Se nosso senso de justiça pode ser abalado por esta proximidade com o delinquente, com que autoridade levantam-se aqueles que compram carteiras de habilitação, ou aqueles que pagam propinas para o guarda de trânsito, ou os que furam fila nos bancos, ou ainda os que ocupam vagas reservadas, e aqueles que se favorecem de informações privilegiadas, de indicações e de benefícios que não chegam aos demais, que dão um jeitinho para acertar um combinado, que fazem um acordo secreto para conseguir algum benefício, que se favorecem com pequenas migalhas do dia-a-dia, que ninguém sabe, ninguém viu e que não vai prejudicar ninguém?

E quantos de nós, ferrenhos esbravejadores em defesa daquilo que é correto, já não usamos de um ardil qualquer para levar vantagem em alguma situação, mesmo que um tola e corriqueira?

Quem disse que isso não vai prejudicar ninguém ?
Tanto a ação indevida quanto o silêncio cúmplice prejudicam a todos!
A infração se faz com a ocasião...
Quanto menor a chance, menor delito.
Quanto maior ocasião, maior o ladrão!

Com que autoridade reclamamos quando a justiça não é aplicada na terceira pessoa (eles, deles), tão distante de nós, se nos calamos quando a mesma justiça é condescendente sobre a primeira pessoa ( eu, meu, nosso)?

Por que tendemos a acreditar que nossos delitos são menores, menos importantes ou impactam menos a sociedade do que os delitos cometidos por terceiros e que, bem por isso, merecem ser relevados, perdoados ou escondidos e silenciados, contando com a cumplicidade daqueles que nos são próximos?

Por que acreditamos que nossas falhas merecem o julgamento condescendente enquanto as falhas de outrem merecem o rigor da lei?

Por que acreditamos que no nosso caso as ações somente se conjugam em primeira pessoa e que nunca seremos a terceira pessoa de ninguém?

Eu, quando falho, atinjo alguém!
Eu, quando me favoreço de algo, me favoreço em prejuízo de alguém
Eu, quando cometo um delito, prejudico alguém.
Sou neste caso a terceira pessoa que infla o desejo de justiça de alguém, que espera a punição da minha falha, na justa medida, tanto quanto esbravejo contra os outros.

Portanto, acredito que a falha esteja nas aulas de português...

Em algum momento alguém esqueceu de nos ensinar que não é possível reivindicar benefícios somente em primeira pessoa, seja ela no singular ou no plural. 
— Eu, meu, pra mim!!!!
— Nós, nosso, para nós...

Assim como não é possível estabelecer regras de conduta somente em terceira pessoa.

Se estes pronomes somente forem utilizados desta forma a vida nunca terá conserto.

É preciso também conjugá-los de forma reflexiva, para proferir deveres. Mas não os deveres pequenos impostos aos vassalos obedientes e passivos diante de seus suseranos. Mas sim os grandes e nobres deveres voluntários, que cada um profere contra si mesmo, como um código de conduta que cria indisposições, mas que protege, que antipatiza, mas resguarda; que blinda contra os ataques. Que cria uma madeira que cupim não rói!

Deveres que deveriam ser conjugados por todos aqueles que se colocam de forma responsável diante da vida.

Existem os outros, que como nós, também se inflamam diante da injustiça.

Portanto, seria bom que começássemos a refletir como seria se nos deparássemos com esta situação: E se os delitos, contra os quais tanto nos voltamos, de repente começassem a ser descobertos e confirmados dentro da nossa zona de conforto, próximos de nós, cometidos por mim ou por pessoas com as quais convivo de forma próxima, amigável e até mesmo afetuosa?

Somente esta reflexão já seria suficiente para por em Xeque o nosso senso de justiça.
Via de regra o delinquente padrão, contra o qual muitos de nós esbravejamos com veemência, é o menor sem berço que nunca conhecemos, é o especulador financeiro com quem nunca convivemos, é o espertalhão que se favorece dos amigos influentes, com quem não possuímos nenhum contato.

Mas e se fosse um amigo, um parente ou um de nós?

Será que nosso senso de justiça sobreviveria à esta situação ou preferiríamos adotar o antigo costume de matar aqueles que nos trouxerem más notícias,  mesmo que verdadeiras?

Enquanto esta reflexão, silenciosa e individual, não acontecer, seremos sempre reféns de nós mesmos. De tudo aquilo que precisamos esconder, de tudo aquilo que seria melhor esquecer, de tudo aquilo que deveria ter ficado no passado, calado.

Mas o passado costuma nos visitar com muita frequência, cobrando de nós o preço do nosso silencio diante de uma irregularidade cometida por um de nós, mesmo que pequena e involuntária. É o silêncio perpétuo em cumplicidade com nosso próximo. É o preço da nossa liberdade que aqui, sem dúvida, é a eterna vigilância.
A vigilância que cria suspeitos, que alimenta inimizades, que não liberta de fato ninguém.
E os que mais vigiam, que mais constrangem o próximo são aqueles que mais têm a esconder...

O silencio cúmplice que é imposto pela sociedade para proteger o próximo que convive conosco cotidianamente, e cujo delito que deve ser esquecido, muitas vezes se converte em luto. Em suas fases o luto caminha pela negação, pela raiva, pela negociação, pela depressão e por fim, pela aceitação.

Devemos aceitar a morte do eu, do meu, do nosso para que algo maior se construa, em favor de todos. Algo que venha trazido pelas mãos da justiça de fato. Aquela que cobra na justa medida as reparações pelos danos causados, silenciosos ou não!

Estacionar em qualquer uma das fases que antecede a aceitação do luto é uma demonstração de imaturidade que nem as aulas de português nem a psicanálise conseguiram corrigir: nunca, em nenhuma situação, a proteção ou o interesse individual deve se sobrepor ao direito coletivo à informação.

Nem diante de uma injustiça.
Nem diante do constrangimento.
Nem diante do medo.
Nem mesmo diante da morte.

Uma pena que, na vida cotidiana, as coisas não sejam assim!
Afinal, quem, em sã consciência, quer se indispor com seus pares?...

Neste caso, pra ficar bem com todos, até vale um "discursinho" de meias verdades ou uma "injustiçazinha" de vez em quando, afinal, isso não vai fazer mal a ninguém, não é?