segunda-feira, 26 de maio de 2014

Redimensionando conceitos




Em 2000, milhões e milhões de Brasileiro acessaram o Site da Fifa, inúmeras vezes, para votar na eleição do Brasil para sediar o Campeonato Mundial de Futebol.

São também eles, responsáveis pela vinda da Copa para o Brasil. Porém, esquecem-se disso quando são inflados a se manifestar contra o campeonato mundial...


Em 2007 os mesmos brasileiros se ufanavam da vinda da copa para cá! 


— O que mudou


— Mudou que em 2007 não havia eleições presidenciais e não havia nenhuma mobilização política empenhada em desestruturar a imagem do país lá fora, que por sinal, vai muito bem, obrigado!!!! 



Em 2007 estávamos todos vibrando e torcendo pra que 2014 chegasse logo para rufarmos os tambores e ganharmos muitas verdinhas às custas dos turistas:
— Vendendo cerveja supervalorizada na orla marítima das cidades-sede à beira-mar;
— Oferecendo diárias estratosféricas, no comércio hoteleiro, super valorizadas em relação a outros períodos do ano;
— Renomeando os pratos comuns, criando cardápios caríssimos a serem oferecidos nos restaurantes das cidades sede, não é mesmo?
Estas entre outras estratégias do comércio visando o ganho rápido e certo advindo da presença de turistas em nossas cidades...

Ou por acaso, a população honesta desse país acha que o comércio varejista não iria jogar os preços lá em cima, pra ganhar em cima dos torcedores de todo o mundo que virão pra cá assistir o mundial? 

E a isso, damos o nome de que? 

Não dá pra chamar de corrupção, porque não envolve dinheiro público. Mas talvez, possamos chamar de ma-fé? oportunismo? apropriação indébita? estelionato? Ou simplesmente de desonestidade mesmo...

E, depois de tanta manipulação de informações, depois de tantos cálculos feitos pela mídia oportunista, utilizando somente os números apresentados pelos veículos de comunicação, desconsiderando os dados do governo, no cômputo geral dos gastos, toda a verba utilizada em estádios, que tem indignado tanto a população, não chega a UM dia de investimentos governamentais na educação ( que, diga-se de passagem, tem um déficit de décadas, pára não dizer, de séculos....)!!!

Os valores públicos investidos nos estádios são na realidade empréstimos que os clubes pagarão com a devida correção.
As obras viárias e de infra-estrutura, superdimensionadas para servirem à população futura, não somente aos turistas de junho, ou os habitantes de hoje, mesmo que ainda não totalmente concluídas, ficarão para a população, depois que a copa se for...

E a nossa imagem final qual será?

— A de um país que não sabe anfitrionar?
— A de um país cujo comércio quer ganhar todo o dinheiro do ano, explorando seus turistas em apenas 30 dias de campeonato?
— A de hospedeiros-comensais que querem se locupletar com o dinheiro estrangeiro, trazido de boa-fé pelos torcedores de todo o mundo?
— A de um povo que sequer conhece as reais condições sócio-econômico-governamentais em que vive e não se intimida em falar bobagens mundo a fora, com sua vaidade inflada pela grande mídia, de forma inversa e negativa?

— Lanço aqui alguns desafios:

  • Desafio todos os donos de bares, restaurantes e afins a venderem refrigerantes a R$3,50, cerveja pelos preços de hoje, PF a, no máximo, R$12,00.
  • Taxistas que façam o percurso correto com seus passageiros, independentemente de serem turistas estrangeiros pagando em dólar (ou euro);
  • Desafio proprietários de imóveis disponíveis para a locação a manterem os preços nos patamares de mercado, desconsiderando a vinda dos turistas;
  • Desafio as padarias a venderem lanches, pão e leite pelos mesmos preços praticados com habitantes locais;
  • Desafio supermecados e comércio varejista a manterem os preços durante a copa análogos aos praticados hoje
  • Desafio todo o ramo de serviços a demonstrar sua hospitalidade tratando os turistas da mesma forma que tratam os locais...

Desafio a população a abrir mão do oportunismo imediatista, comum durante os grandes exemplos, e exercitar sua honestidade íntegra e absoluta, apenas durante os dias do mundial.
Desafio...
D-E-S-A-F-I-O!

Perceberemos que não temos sido honestos nem conosco mesmos, e esta e a origem de todos os nossos males!

Enchemos a boca quando é para falar de desonestidade, de superfaturamento e superdimensionamento de preços quando o dinheiro é público. 

Mas... e quando esta conduta é privada, praticada pelo comércio, pelo cidadão comum, que quer "apenas ganhar um dinheirinho extra", ou, num olhar mais distante e profundo, pelos pais que estimulam seus filhos a "fazerem de tudo" para serem os melhores em suas tarefas, ensinando que o importante é ser bem sucedido, independentemente dos meios???
 — Aí, pode?
— Não, não pode!
— Tem menos impacto sobre a vida da sociedade?
— Não, gente, não tem não!

São condutas aparentemente tolas do nosso dia-a-dia, mas tão oportunistas quanto qualquer descalabro público, que impactam nossas vidas, muito mais do que qualquer estratégia política do governo!

Somos muitos, e tantos, que juntando os pequenos "oportunismos" individuais cometidos "inocentemente" a cada dia, geramos, nós, os reclamantes, um déficit social muito maior do que qualquer fenda financeira governamental.

Se a questão é cobrar HONESTIDADE, sejamos nós também honestos, ou perderemos o direito de alegar oportunismo dos políticos.

Porque os políticos não nascem eleitos. Nascem cidadãos como qualquer um de nós. E crescem vendo seus pais, seus vizinhos, seus núcleos de convivência cotidiana, seus conhecidos, simpáticos ou não, manterem viva a conduta do oportunismo, onde é preciso ser esperto para sobreviver.

Por que é preciso ser esperto?
Não basta ser honesto?
Não basta ser correto?
Somos nós os verdadeiros agentes do descalabro público, na medida em que vamos, pouco-a-pouco nos distanciando desses princípios!

Nós, dentro de nosso núcleos familiares: é nesses núcleos que são gerados os políticos, não na política.
São gerados nas casas onde a "esperteza" não é punida com a severidade necessária. Onde o oportunismo é tolerado, se trouxer vantagem para o oportunista. Onde a lei de Gerson é até valorizada, desde que a vantagem venha com certeza absoluta!
Os políticos, e a política, são o reflexo do que somos nós como estrutura tolerante com o jeitinho, que acoberta pequenas vantagens na vida privada, mas cobra preços altos de quem está na vida pública.

Hipocrisia que somente será saneada através de um trabalho duríssimo a ser implementado durante algumas gerações para alcançar êxito.

Por enquanto, pergunto: com que cara, brasileiros, queremos cobrar honestidade dos que nos governam se não somos, nós mesmos, no nosso dia-a-dia, capazes de planejar uma recepção de turistas neste mega-evento sem superdimensionar todas as condutas financeiras que serão praticadas, não somente pelo governo, mas por cada um de nós?! 

E só a titulo de curiosidade: aqueles que estão descendo o pau na copa, assistirão os jogos onde? Torcerão, a favor ou contra, junto com quais amigos? Aproveitarão o feriado de que maneira? 

— Ah, por favor, né?....
Um pouco de auto-crítica, no âmbito social, às vezes pega melhor do que uma manifestação pública manipulada, insuflada ou mal conduzida.
———————
Neste sentido, aproveito a oportunidade para tirar o meu chapéu para o MSTS, que vai às ruas, mostrar que quando a reivindicação é justa, não é necessária baderna, e por isso não acolhe infiltrados em suas fileiras, mantém seus integrantes organizados, caminhando pacificamente pelas ruas de uma cidade como São Paulo, aos milhares, sem que haja nenhuma ocorrência de vandalismo ou violência.

Aproveito para solicitar: observem com um carinho maior a conduta dos movimentos populares, REALMENTE POPULARES, que atendem às demandas dos REALMENTE DESFAVORECIDOS, para aprender com eles o que significa reivindicar.

Talvez a sociedade, para poder se indignar com tanta fúria, de forma justa, precise primeiro se calar diante de suas próprias falhas para, em seguida, redimensionar seus conceitos de honestidade, esperteza, oportunismo e civilidade, a serem cobrados de seus governantes....

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