domingo, 18 de agosto de 2019

Vazio




Considero difícil descrever o vazio. Por uma razão simples: na vida sempre buscamos o preenchimento. E o vazio é uma ilusão sensorial, dúbia e paradoxal.
Por exclusiva falta de parâmetros comparativos entre o vazio e os demais medos,  fica o vazio ali, largadinho, no canto, esperando que alguém olhe pra ele com olhos amistosos.
- O vazio assusta!
Todo mundo quer algo, pra usar em algum momento, pra mostrar pra algum amigo, pra preencher algum vão da vida, pra carregar de lado ao outro. 
Tudo, tudo pra camuflar o vazio.
- Ah, o vazio é o nada!
Descobri que o vazio é uma imensidão plena onde tudo cabe. Como poderia concordar que isso é nada?
O vazio é tudo o que está presente e invisível, o vazio é a expectativa sem necessidade de satisfação, é o caminho que se percorre sem obrigação de chegada.
O vazio é leve mas muitos temem seu peso.
O vazio atrai olhares mesmo sem ser visto.
Conheci o vazio e o trouxe pra minha morada.
Leve, fluido, sem forma, sem odor.
No meu vazio cabe o mundo inteiro.
Descobri que a felicidade é o sentimento que borbulha quando o vazio se completa.

Ser feliz é abraçar seu vazio. Ser seu continente e seu próprio conteúdo, é flutuar como balão de gás Hélio, é não buscar nada porque o todo está pleno.
Meu vazio mora comigo, me alegra, me distrai, me faz companhia.
Não está mais à espreita. Não me acua mais, está aí para ser preenchido ou apenas para me transmitir paz.
Decidi preenchê-lo sorrindo, fazendo festa, com brilho nos olhos, com o peito procurando pelo futuro.
Eu o preenchi comigo mesma e descobri que isso é ser feliz.
O vazio é meu. Preencho como eu quiser.

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