segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Dia 11 — Armistício

Diário da CPTM
365 dias de uma Passageira
21/11/2016

Hoje foi um dia de guerra!
Daquelas que você fica dias preparando o embornal...
Na noite anterior, insônia. Nas refeições que antecedem o dia, inapetência....
Ansiedade, giro mental elíptico e interminável. Alguns chamam de looping. Eu chamo de neurose.
Sou uma neurótica! Dentro da minha cabeça passam-se todos os roteiros do dia, das frases, das abordagens. É um inferno residir dentro do meu cérebro, reconheço!
E, para mim, carregar essa cabeça, 24 horas por dia, um inferno dobrado. Porque ela pesa...
Uma cabeça humana pesa, em média, 3.500g
Três quilos e meio sobre o pescoço. Não há cervical que aguente.
Mas uma cabeça neurótica como a minha pesa bem uns 400 quilos.
E hoje minha cabeça neurótica tinha um compromisso às 9 horas. Acordei às 6h. Às 7h estava a postos na plataforma esperando o trem.
Eu e ele, novamente juntos, depois de 5 dias de hiato.
E ele, pra me castigar, demorou!
E veio cheio...
Atrasado e cheio, mas consegui sentar!
Um bom presságio...
Fomos bem, até que me dei conta do horário. Naquele horário eu deveria ter acrescentado ao menos 30 minutos no tempo necessário para chegar ao meu destino sem atrasos.
A CPTM faz com que a palavra atraso seja recorrente na minha vida...
E, dito e feito! 25 minutos de espera na plataforma da integração trem/metrô no Brás!
Meus deuses, aquilo é desumano!
E a guerra, que caminhou durante dias na minha cabeça, mas que de fato deveria começar somente às 9 horas, hoje começou às 8.
E foi um corpo a corpo impossível de descrever. Daqueles que subvertem as leis da física e alojam inúmeros corpos ocupando o mesmo lugar no espaço.
E minha cabeça fritando ali dentro.....
Senti uma súbita revolta contra o transporte sobre trilhos.
Era pra ser melhor, gente! Este é o melhor meio de transporte existente! Inexplicável esta conjuntura de aperto!.
E minha cabeça fritando dentro do coletivo....
Aquela revolta latente, arquivada para dali a alguns minutos: e foi um show de paciência com essa revolta que me poderia ser útil.
E a cabeça neurótica dizendo para si mesma: calma, vai dar tudo certo.
Mas meu desejo de transformar a integração CPTM/Metropolitano de São Paulo em um indivíduo humano, e assim conseguir sair no tapa com ele, às vezes chega ao limite do incontrolável.
Enfim.... cheguei amarrotada ao compromisso, a cabeça fritando, a neurose batendo níveis assustadores, apesar de transparecer o maior autocontrole da face da terra.
Afinal, o show tem que continuar.
Começa a guerra. Batalha sim, batalha não.... uma vencida, outra perdida. Chegamos ao final.
Já nos estertores, quase na hora de ir embora, fui abordada por um cidadão querendo medir forças. Me abordou, cheio de razão, apontando meus sapatos, a marca dos meus óculos, como se isso fizesse de mim uma pessoa menos merecedora dentro de uma luta por direitos. Ali a panela de pressão que é minha cabeça quase explodiu!
Mas, como o show ainda não terminou, vou deixar pra liberar a pressão mais tarde.
Volto pra casa.
Trem vazio.... horário de almoço. Amigo ao lado, jogando conversa fora, faz a viagem ficar mais curta.... ou melhor, mais breve.
Desço e caminho pra casa, blasfemando contra a CPTM, essa carrasca que mantém aceso o fogareiro que esquenta minha cabeça. Diariamente, me cozinha em fogo baixo, trazendo a cada viagem uma surpresa. E minha cabeça neurótica arquivando todas as trapaças que me são impingidas por ela pensando: um dia dou o troco.
E quem diria, esse dia foi hoje!
Ela me espreme, me atrasa, me apoquenta a moleira, diariamente, mas hoje, quem diria... descubro que ela vai pagar o feijão este mês na minha casa...
Sua linda, obrigada pelo apoio!
Tá perdoada... Guerreamos outra hora!
Apoio: CPTM


Nenhum comentário:

Postar um comentário