segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Dia 6 — Os dias não são sempre iguais

Diário da CPTM
365 dias de uma passageira.
12/11/2016

Chinelo de dedos nos pés.
Não, não estou dirigindo. Hoje estou de passageira.
Todos os dias sou passageira, é verdade, como passageiros são eles também, os dias...
Todos os dias acordo cedo, rotina comum.
Incomuns são os dias.
Todos os dias tem alguma surpresa: um cargueiro na frente, um raio no transformador de energia, um objeto na via, uma árvore caída após um temporal. Vida de passageiro não é mole não!
São tantas emoções que descrever uma a uma é praticamente impossível.
Mas a emoção de estar com um chinelo de dedos nos pés, esta precisa ser descrita:
Experimente. Uma vez na vida, que seja...
O pé respira. Os dedos olham pra você e veem o mundo por você, de um ângulo que você jamais verá. E mais...veem o mundo pelo tato.
Em dias chuvosos, como hoje, veem o mundo molhado.
Os dias de sol são uma consagração. Meus pés, como eu, veem o mundo colorido, sequinho e esvoaçante.
Um pé que se preze, como o meu, não merece sofrer as dores do mundo. Carregar tudo sobre eles já é demais.
Por isso, as vezes, eles tiram folga e caminham livres, amparados por um par de chinelos de dedo.
Ir para o trabalho de chinelos de dedos nos pés, mesmo num dia chuvoso, é a glória.
Este dia é hoje!
Tome, CPTM, hoje é um dia diferente.
Meus pés não vão até você.
Hoje sou passageira sobre rodas de borracha.
Azar o seu! Não vai ver ninguém pisando no meu pé na hora do desembarque.

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