quinta-feira, 16 de julho de 2015

Dilma, te vejo no domingo!

Ontem, indo pro trabalho, percebi uma grande movimentação de Policiais Militares nas ruas, no entorno do Theatro Municipal. Nada aparente, nenhum movimento perceptível que justificasse isso.
Ao sair do trabalho, helicópteros sobrevoando o centro, um som de hélices que foram ouvidos, ao longe, esporadicamente, durante o ensaio.
Ao sair do ensaio, minha ida ao médico, saída pensativa em minha caminhada pela Paulista.... E lá, mais polícia, caminhando de forma "disfarçada" por entre os transeuntes.
À noite, por volta de 21 horas, entrando no metro Paraíso, avistei algumas pessoas com bandeiras enroladas e adesivos 45 no peito, caminhando solitariamente, cabisbaixas. Pensei comigo: coitados, devem ter ficado durante todo o dia trabalhando em alguma esquina, agitando solitariamente sua bandeirinha, entre o abre-fecha dos semáforos...
Dentro do Metro, alguns grupos "diferenciados", reunidos em dois ou três, com características semelhantes.
Pensei: ...Fim de campanha é assim mesmo. Olhares vão se esvaziando quando começa a se delinear um resultado não muito satisfatório...
Agora cedo comecei o dia tomando pé dos fatos de ontem, já que o dia de ontem, para mim, só terminou agora há pouco (em algumas poucas horas de sono...).
Foi aqui no Facebook que fiz a conexão entre todas as cenas que vi ontem, desde minha chegada no trabalho até minha entrada no último metrô do dia, voltando para casa.
Ontem foi o dia da manifestação PSDBista, convocada por FHC no largo da Batata, em apoio à candidatura de Aécio Neves...
AÍ DEU-SE UMA CONEXÃO MELANCÓLICA DE TODAS AS CENAS EXPRESSÕES FACIAIS E SITUAÇÕES QUE PRESENCIEI ONTEM...
— Durante todo o dia não encontrei grupo de jovens festeiros, cantando e dançando passos de maracatu, com fitas amarradas na testa, levando o nome de seu candidato preferido adiante, ao conhecimento alheio.
— Durante todo o dia não ouvi, em nenhum momento, o som daquelas bandinhas tipo "Banda do Pirú", animando grupos de manifestantes que caminham gargalhando pelas ruas, animados pela charanga de sonoridade quase infantil, ecoando o nome do (a) candidato(a) favorito(a), dançando aos pares, rimando sua escolha eleitoral pelas ruas em cantigas parodiadas do cancioneiro popular.
— Durante todo o dia não senti nenhum tipo de euforia contaminando os pedestres, excitados pelo momento do final do dia, em que todos se reuniriam para sagrar aos 4 ventos sua escolha pras urnas no domingo próximo.
— Durante todo o dia não vi a predominância de uma cor simbólica que identifica um candidato, uma campanha, uma escolha ideológica.... Não vi.
Mas, apesar de também não ter visto, sei que em algum lugar houve um grupo que se reuniu e gritou palavras de ordem, que esbravejou contra algo...
O que vi durante todo o dia foram policiais de prontidão, ouvi helicópteros, vi executivos alinhados, senhoras respeitosas, jovens arrumadinhos, vi policiais, durante todo o dia, todos muito camuflados como se esgueirassem em direção à um conluio secreto que deveria acontecer subitamente, surpreendendo a todos como um golpe certeiro que mata o feroz inimigo, do qual precisamos nos proteger, mesmo que seja sob disfarce.
E o que vi, em nada, ou quase nada, diferia do que vejo todos os dias, em uma cidade como São Paulo, onde quase ninguém ri alto na rua, onde amigos não andam aos bandos gargalhando e comemorando um feito bobo e divertido, onde a felicidade deixa pra acontecer quando cada um retorna para o seguro recôndito de seu lar.
A cenas de ontem contrastaram com outra, que presenciei no início da semana, na festa da "Peruada" promovida pelos alunos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco", onde a juventude, predominantemente vermelha, ocupou as ruas do centro, fantasiada, cantando movida pela bandinha sobre um carro de som, num verdadeiro Carnaval fora de época, agitando bandeiras com o fundo vermelho e o nome de sua candidata tremulando ao vento e caminhando com eles. Todos ali, espontaneamente tremulando suas bandeirinhas ao vento e levando sua candidata com eles, sem que fosse necessária nenhuma convocação. Aliás, não estavam ali para isso, não era uma manifestação política, era uma festa de estudantes.... mas aproveitaram o momento para isto, democraticamente, como se faz em um país livre, onde a ditadura não ameaça ninguém, nem de longe, a não ser na cabeça doente daqueles que "deram de ombros" para os livros de história... Claro que esta micareta estudantil incomodou, alterou a vida rotineira dos que caminham pelas ruas, passo a passo, por aí, já distantes de suas juventudes festivas.... Mas a caminhada aconteceu, a despeito dos incomodados que, certamente, escolheriam participar do cenário que presenciei ontem, contrastando com o carnaval do começo da semana.
Hoje descobri que o dia de ontem foi o dia escolhido por FHC para conclamar a população para dar seu apoio de reta final a Aécio Neves, rumo à "vitória nas urnas" (?) no dia 26 que se aproxima...
Hoje soube que este encontro naufragou, "desmilinguiu", não teve quórum, pelo menos não se equiparou em nada às ondas vermelhas que tem acontecido em todo o Brasil nesta última semana.
Pelas caras que vi durante o dia, pelos sons que ouvi, pela segurança mobilizada, pelo retorno melancólico dos "manifestantes" de ontem, acho que o encontro não foi tão legal quanto se esperava....
Porque faltou autenticidade, faltou alegria, faltou leveza, faltou cumplicidade, faltou ideal, faltou sentimento de pertencimento, faltou acolhimento, faltou um lema, faltou liderança, faltou militância, faltou coerência ente desejo e ação, faltou identidade e identificação.
Faltou afeto.
Faltou coração.
Faltou tudo aquilo que me faz esperar pela vitória de Dilma Rousseff no domingo.
Espero, sim!!!
— porque tenho um guri de 10 anos perto de mim...
— porque tenho adolescentes e jovens entre os meus, que tem sido influenciados por discursos moralistas, conservadores, distorcidos e separatistas e eles precisam de tempo e oportunidade para descobrir, aprender e reconhecer que tais discursos não são razoáveis quando se pensa em uma sociedade igualitária.
— porque quero pra essa turminha um país mais afetuoso, mais igual, mais afeito às relações de respeito e tolerância.
— porque minhas relações de amor e respeito precisam de igualdade social para existirem com plenitude.
— Porque amor, igualdade e respeito são coisas que não quero só pra mim...
Quero pra essa turminha amigos que dancem nas ruas ao som da "Banda do Pirú".
Quero pra essa turminha colegas de todas as classes sociais, religiões e cores se divertindo juntos na mesma balada, que pode acontecer numa festa ou numa praça...
Quero pra essa turminha uma história que os ajude a se reconhecer como cidadãos, a se expressar como seres humanos a se enxergar como compatriotas de outros indivíduos, que como eles pertencem a esta terra e tem os mesmos direitos à felicidade e oportunidades das quais eles desfrutam, sem nem mesmo se dar conta disto.
Quero pra eles uma felicidade que não vi ontem, nos olhos dos manifestantes pró-Aécio, mas vejo nas lindas ondas vermelhas que tem ocupado as ruas nesta reta final.
Ondas de acolhimento, que levam no seu balanço a moça bem penteada, mas levam também a descabelada... levam o jovem impetuoso, mas levam também o velho cauteloso, levam o homem e a mulher, sem lhes perguntar com que eles dormem, pra que Deus eles rezam, quem marca de roupa lhes cai bem. Quero ir na onda que leva o intelectual, mas leva também o analfabeto funcional, o semi alfabetizado, o iletrado e vão todos juntos trocando sua sabedoria construtiva. Quero ir na onda que leva o perfumado e desodorante vencido. A mão fina e a calejada. O pé bem feito e a calosidade exposta. Quero ir junto com a onda que vai de carro, a que pedala, a que vai à pé ou de transporte coletivo. Quero ver juntos o bem nascido e o desabrigado. Quero ser a preta que vai entre os brancos, tendo o oriental conversando comigo, o índio fazendo sua pajelança ao meu lado, o gringo e o nativo conversando a universal linguagem dos sinais, e quero ir com eles, buscando aqueles que ainda não vieram, porque aqui tem espaço pra todo mundo, bonito, feio, pobre, rico, com água na torneira ou advindo de uma seca descomunal.
Hoje sei, com certeza feliz e absoluta, que escolhi a onda certa.
Quero estar ao lado daqueles que querem felicidade igual pra todo mundo.
Dilma, te vejo no domingo...

Nenhum comentário:

Postar um comentário