quinta-feira, 16 de julho de 2015

Impotência

Olhamos para os jovens infratores de 16, 17 anos como se eles não tivessem passado.
Como se no seu passado não existissem histórias de abuso, de abandono, de privação física, moral e social.
Como se as estruturas sociais necessárias à boa formação do caráter não lhes tivesse sido negada pela própria sociedade, durante séculos de desigualdade.
Olhamos para os jovens infratores de 16, 17 anos como se o recorte do presente delinquente lhes conferisse uma geração espontânea no crime, sem vida pregressa.
Como não reconhecemos o passado de privação, porque não faz parte do nosso repertório de vivências, nos achamos no direito de lhes negar um futuro de dignidade, apartando-os do convívio conosco: a "sociedade", os "homens de bem"!
Pra mim é isso que explica que mais de 80% da população apóie a redução da maioridade penal.
Essa maldita SPP: Síndrome do Presente Perpétuo, na qual somos todos maravilhosos e lindos, hoje, aqui e agora.
O passado não existe e o futuro ainda não chegou!
Carpe Diem para nós.
Cárcere para os demais.....
Mas o futuro chegará e, espero que ainda nos arrependamos de tanta leviandade e egoísmo.
Me custa falar em 3a. Pessoa do plural. Me avilta integrar este "nós"!
Sou contra a redução da maioridade penal, mas, como integrante desta sociedade, mesmo que na condição de minoria, inevitavelmente recairá também sobre mim o peso dessa condenação de uma juventude sofrida, excluída, marginalizada e, possivelmente, criminalizada.
Mas, neste momento, só me resta aprender a perder. E absorver o golpe!
A sociedade somos todos nós!
Sigo vivendo nela, imobilizada, derrotada e impotente.
Nossa, que dor!
Acho que meu fígado hoje decreta falência antes das 17.

Nenhum comentário:

Postar um comentário